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    Velhos amigos se reencontram em Cuba em filme sensível sobre maturidade

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    14/06/2015 02h45

    "Retorno a Ítaca" mostra uma reunião de velhos amigos em Havana. Eles celebram o retorno de Amadeo (Néstor Jiménez), que viveu muitos anos em Madri. Relembram os velhos tempos, reacendem disputas (Beatles vs. Rolling Stones), lamentam o tempo que passou.

    Toda a ação se passa em um único dia, na casa de Aldo (Pedro Julio Díaz Ferran). Em algum momento, esses amigos começam a lavar a roupa suja, pois coisas reprimidas insistem em voltar, principalmente quando chega Eddy (Jorge Perugorría), o garanhão de agora e de outrora.

    Sua aparição parece despertar o acerto de contas principalmente em Tanía (Isabel Santos) e Rafa (Fernando Hechavarría), mas acaba sobrando para todos. Quando palavras são ditas de modo enviesado, nada fica como antes.

    Divulgação
    Cena de Retorno a Ítaca
    Cena de Retorno a Ítaca

    Esses cinco amigos, de alguma forma, refletem a falência das utopias. Estão todos na casa dos 50 anos, talvez mais. Quando jovens, alimentavam sonhos, como todos os jovens; sonhos se evaporaram em opções equivocadas ou atitudes relapsas.

    Claro que os clichês de filmes sobre reencontros estão presentes, especialmente as emoções provocadas pela música, como na cena de abertura, com os amigos dançando e cantando, sugerindo uma harmonia maior do que a que realmente existe.

    Em certa altura, alguém coloca The Mamas and the Papas para tocar: o maior hit da banda, "California Dreamin'", é pedida óbvia. E o ritmo dos afetos e das ofensas continua.

    O padrão repete aquele estabelecido nos anos 1980, nos excelentes "O Reencontro", de Lawrence Kasdan, e "Return of Secaucus Seven", de John Sayles: os laços do passado não podem mais se sustentar, a não ser que os ressentimentos venham à tona.

    "Retorno a Ítaca" é o sétimo longa do diretor francês Laurent Cantet. Seu filme anterior, "Foxfire" (2012), tem qualidades, mas parece obra de um artista perdido, com uma frouxidão que já estava presente, em menor grau, em seu premiado "Entre os Muros da Escola" (2008).

    Cantet volta, então, a se exilar, como em seu melhor filme, "Em Direção ao Sul" (2005), e retoma uma ambientação cubana, como em "Domingo", episódio que dirigiu para o longa coletivo "7 Dias em Havana" (2012).

    O realizador faz aqui um retrato sensível sobre a maturidade e seus desencantos. Sua direção é irregular: frouxa em alguns momentos, exagerada em outros. Mas o roteiro, construído com a colaboração do escritor cubano Leonardo Padura é forte o suficiente para sustentar o drama.

    RETORNO A ÍTACA
    DIREÇÃO: LAURENT CANTET
    ELENCO: JORGE PERUGORRÍA E PEDRO JULIO DÍAZ FERRAN
    PRODUÇÃO: FRANÇA, 2014, 14 ANOS
    QUANDO: EM CARTAZ

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