• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 18:07:33 -03

    Las Vegas é cemitério de elefantes do pop, como Britney Spears e Elton John

    THALES DE MENEZES
    ENVIADO ESPECIAL A LAS VEGAS

    14/06/2015 02h20

    Andando pela Strip, como é chamada a muito longa e larga avenida que concentra os hotéis enormes e exagerados de Las Vegas, é possível ver cartazes de grandes veteranos, muitas vezes decadentes, astros da música pop.

    A maioria já ultrapassou os 60 anos. Elton John, Barry Manilow, Tom Jones, Rod Stewart, Britney Spears...

    Ops! Britney? Aos 33 anos? Parece que a decadência não tem idade em Las Vegas.

    Denise Truscello/Getty Images
    Britney Spears se apresenta no espetáculo "Britney: Piece Of Me", no cassino Planet Hollywood, em março de 2015
    Britney Spears se apresenta no espetáculo "Britney: Piece Of Me", no cassino Planet Hollywood, em março de 2015

    Esses nomes não fazem turnês. Em Vegas, o nome é "residência". Eles assinam contratos com os hotéis e cassinos, com duração de vários meses, até mais de um ano.

    Tanta antecedência é para reservar ingressos aos turistas que compram pacotes em Vegas meses antes de visitar a cidade. É comum encontrar pacotes do tipo "cinco dias de hotel + jantar em tal restaurante + show de mágica do David Copperfield + show da Celine Dion".

    Quem não tem agente de turismo e está organizando por conta própria uma ida a Las Vegas não deve comprar os ingressos pela internet. O preço ali é alto. Nos shows recentes de Rod Stewart, em janeiro, custavam US$ 140 (cerca de R$ 450) na internet. Na bilheteria, inúmeros tipos de promoção reduziam o preço a US$ 30 (cerca de R$ 95).

    A lógica do negócio é simples: shows são apenas um chamariz, um brinde para o turista. O que Las Vegas quer é ver o sujeito pagando R$ 100 para ver um Elton John e depois gastar R$ 2.000 em seus cassinos.

    SONHO DE TIOZÃO

    A lista de atrações musicais na cidade nos últimos anos é um sonho de tiozão: Eagles, Phil Collins, Cyndi Lauper, James Taylor, Journey... Gente com pelo menos quatro décadas de estrada.

    É irresistível comparar a cidade a um cemitério de elefantes. Segundo essa popular história zoológica, quando um elefante fica velho e sente que vai morrer, caminha na direção de uma determinada área naquela região para morrer ali. Quase sempre vários esqueletos de elefante são achados juntos, caracterizando um cemitério.

    A pergunta: por que Britney Spears já está por lá?

    Para quem vive da adoração dos fãs, perder esse contato pode ser mortal –pelo menos financeiramente. A última turnê dela não foi exatamente um sucesso. Em algumas paradas, teve apenas 30% de ingressos vendidos.

    Aí a oferta dos hotéis de Las Vegas acaba sendo interessante. Para o bolso, porque o artista, por exemplo, pode receber em duas ou três parcelas o cachê de 60 shows. E bom para o ego, porque as promoções nas bilheterias deixam a plateia sempre lotada.

    Essa modalidade de contrato começou ainda nos anos 1950, com Frank Sinatra e, para os roqueiros, se tornou famosa com Elvis Presley, nos anos 1970.

    A residência do Rei do Rock, gordo e entupido de remédios, foi ridicularizada por muita gente. Como Mick Jagger, que disse: "Não quero ficar como Elvis, cantando aos 40 anos em Vegas, para plateias de senhoras com sacolas de supermercado".

    Bem, Jagger não precisou de Vegas, mas está aí, um setentão cantando e pulando.

    A geração de Jagger já está na cidade. Elton John e Rod Stewart eram colegas de farras dos Stones e fazem residências de dezenas de shows nos hotéis (veja lista ao lado).

    JUVENTUDE ELETRÔNICA

    A presença de Britney pode deflagrar um rejuvenescimento do público que visita a cidade. Atrair a molecada com Celine Dion é difícil.

    Britney é procurada por um público mais jovem, que, depois de ver o show dela, não precisa necessariamente ver um Barry Manilow com idade para ser seu avô.

    A cena de música eletrônica cresce na cidade. Os maiores hotéis estão se mexendo para oferecer espaços cada vez maiores às baladas.

    No MGM Grand, há três semanas, o DJ holandês Tiesto reuniu 6.000 pessoas em salão construído no subsolo de uma das torres do hotel.

    Segundo levantamento da prefeitura de Las Vegas, cerca de US$ 320 bilhões (R$ 1,2 trilhão) podem passar pelos cassinos em um ano. O dinheiro movimentado pelos shows não chega a 0,5 % disso.

    O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite do Rock in Rio Las Vegas

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024