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    Sem Brant, minha vida não teria sido tão linda, diz Milton Nascimento

    LILIANE PELEGRINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BELO HORIZONTE

    13/06/2015 16h57

    Milton Nascimento foi dormir sem poder acreditar na notícia que recebera no Rio de Janeiro no final da noite de sexta-feira (12). Seu maior parceiro, Fernando Brant, havia acabado de morrer em Belo Horizonte, em decorrência de complicações após um transplante de fígado –há três anos fora diagnosticado com câncer no órgão.

    "Nós estávamos sempre em contato, mas não sabia como estava a saúde dele. Fui para a cama muito apavorado e peguei estrada às 5h para me despedir", desabafou Milton, quando chegou ao velório do amigo, no Palácio das Artes, na capital mineira, por volta das 13h.

    Antes de conversar com a imprensa, ele teve um momento reservado com a família de Brant. Parecia ainda sem conseguir acreditar e lamentava com parentes do compositor não ter sido informado do estado de saúde do parceiro.

    Segundo familiares, Brant, sempre otimista e disposto, não quis alarmar o amigo, porque acreditava em sua recuperação.

    "Desde o começo, quando a gente se conheceu, o laço sempre foi uma coisa muito forte. Minha vida não teria sido tão linda se não tivesse esse tipo de amizade", disse Milton. "O que eu guardo de lembrança do Fernando é toda a minha vida".

    O cantor disse que a relação com Brant "faz parte da coisa mais séria para mim, que eu aprendi com os meus pais, que é uma coisa que se chama amizade".

    Ele comentou ainda a dedicação dos dois na parceria musical. "A gente não fazia as músicas só por fazer ou do nada. A gente estudava o que estava se passando nas nossas vidas nos nossos corações. Tem uma coisa que eu adoro que é fazer música para as pessoas e as pessoas sempre foram a fonte de energia para a gente".

    Mais tarde, Milton divulgou nota no Facebook relembrando o último encontro entre os dois.

    Outros amigos foram se despedir do compositor.

    Lô Borges, um dos caçulas da geração do Clube da Esquina, lembrou de seu encontro com Brant. "Vão ficar eternizadas muitas obras que ele escreveu. Ele vai ficar para sempre na memória coletiva da música e da poesia brasileira", disse ele, apontando "Paisagem da Janela" como uma canções mais memoráveis que resultaram de sua parceria com Brant.

    Toninho Horta, outro parceiro de composição, disse que Brant "está no topo dos poetas e pensadores do Brasil". "Ele criou identidade em todas as suas composições, com Milton, com Lô, com Beto, comigo. Canções que não teriam a mesma força sem a letra, sem a poesia dele."

    Também passaram pelo velório do artista o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), e os senadores tucanos Aécio Neves e Antonio Anastasia. "Além de ser uma pessoa com quem tive o prazer de conviver, ele tem um legado importantíssimo para a música e cultura mineira, brasileira e mundial, para a política também", declarou Pimentel.

    O velório contou ainda com personalidades de outras áreas da cultura, como o presidente da Academia Mineira de Letras, Olavo Romano, e escritores como Carlos Herculano Lopes e Amílcar Martins Filho.

    Mesmo lutando contra o câncer nos últimos anos, Fernando Brant mantinha-se ativo, trocando energia com uma nova safra de compositores.

    Havia, inclusive, uma apresentação agendada para o mês de julho no Museu de Arte da Pampulha, ao lado de Mariana Brant e Geraldo Vianna.

    Torcedor fiel do América Futebol Clube, Brant teve o corpo coberto com a bandeira do time.

    No jogo que o América disputará na noite deste sábado no estádio Independência, os jogadores iriam homenagear o compositor com uma inscrição especial na camisa, com o verso "Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito", de uma de suas obras mais emblemáticas, "Canção da América".

    O corpo do compositor foi enterrado no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.

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