• Ilustrada

    Friday, 03-May-2024 10:11:26 -03

    Aos 70 anos, Walter Franco lota shows e se apresenta na Virada Cultural

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    17/06/2015 02h25

    Walter Franco, 70, recebe a Folha na casa de Maria Cristina, sua ex-mulher –e melhor amiga–, com um netinho dormindo no quarto e o cachorro Juca, um labrador de 15 anos, brincando com o entrevistador e o entrevistado.

    Um retrato extremamente tranquilo de um cantor e compositor que teve durante anos a capacidade de mostrar canções que nunca se desgrudaram do rótulo de "polêmicas".

    Depois de causar impacto em festivais e gravar cinco discos elogiados entre 1973 e 1982, nos últimos 33 anos ele só lançou "Tutano", em 2001. Afastamento voluntário? Rejeição das gravadoras?

    "São as duas coisas. Há um momento na vida que a gente corta relações, rompe com as coisas que faz. Aconteceu. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas nunca me deixaram muito isolado. Fui sempre chamado para shows, com banda ou só voz e violão", diz o cantor. E sua agenda deste ano confirma isso.

    Desde janeiro, seus shows têm ingressos esgotados semanas antes das apresentações. As casas superlotam, como nas noites no Sesc Vila Mariana e no Centro Cultural São Paulo –onde o público invadiu totalmente o palco, deixando Walter "preso" no centro da cena, levado a tocar mais canções.

    Essa fase de popularidade deve ter mais um episódio no domingo (20). Ele se apresenta no Sesc Pompeia, dentro da Virada Cultural, com o antigo parceiro Jards Macalé, 70, e a Banda Isca de Polícia, que acompanhava Itamar Assumpção (1949-2003).

    Walter Franco tem um motivo a mais para comemorar. Gravado há 40 anos, seu álbum mais aclamado, Revolver, foi relançado em vinil há duas semanas.

    É seu segundo disco, que se equilibra entre a MPB de vanguarda e o rock experimental. Quem se interessa por Frank Zappa ou Arrigo Barnabé não pode deixar de conhecer.

    Depois ele gravaria "Respire Fundo" (1978), "Vela Aberta" (1979) e "Walter Franco" (1982), com músicas que seus fãs exigem nos shows, como "Coração Tranquilo", mantra de quatro versos que sintetiza o encontro da influência oriental e da poesia concreta, motrizes de sua poesia.

    Mas só é possível entender a força de Walter, que nunca fez parte de movimentos na MPB, quando se conhece suas passagens nos festivais.

    Em 1972, ele apresentou "Cabeça" no Festival Internacional da Canção. O júri, que tinha, entre outros, Nara Leão, Julio Medaglia, Roberto Freire, Rogério Duprat e Décio Pignatari, decidiu que a música era a vencedora do concurso.

    Hermeto Pascoal, que o acompanhava, foi impedido de subir ao palco com um porco. "Hermeto queria o som do porco na música, tinha lógica nisso", conta Walter.

    Os jurados gostaram, mas o público vaiou muito. Censores do governo militar, que acompanhavam a transmissão da Globo nos bastidores, impediram que uma música de versos entrecortados e sons eletrônicos ganhasse. O júri foi desfeito e a vencedora foi "Fio Maravilha", de Jorge Ben, defendida por Maria Alcina.

    As reações foram intensas, entre aplausos e vaias, e Roberto Freire pegou o microfone para denunciar o ocorrido.

    Em 1975, Walter voltou a receber uma sonora vaia no Festival Abertura, quando apresentou "Muito Tudo". Apesar disso, ganhou o terceiro lugar.

    Ele se reencontrou com vaias em 1979, no Festival da TV Tupi, quando cantou a berrada "Canalha". "Não chamava ninguém de canalha, é uma música que fala da dor existencial", explica, com o tom calmo e constante de seu coração tranquilo.

    JARDS MACALÉ, COM WALTER FRANCO E BANDA ISCA DE POLÍCIA
    QUANDO domingo (21), às 18h
    ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
    QUANTO grátis; ingressos disponíveis a partir das 17h do sábado (20), em todas as unidades do Sesc da cidade

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024