A longa fila no Theatro Municipal, por volta da meia-noite de sábado (20), sinalizava uma das atrações mais disputadas da Virada Cultural.

Só o carisma de Hermeto Pascoal, que completa 79 anos nesta segunda (22), já atrairia tanta gente. Melhor: o "bruxo" alagoano iria comandar um trio de gigantes da música instrumental que poucos viram tocar no Brasil.

	Eduardo Anizelli/Folhapress
	Hermeto Pascoal durante apresentação no Theatro Municipal

Ele, o baixista paulista Arismar do Espírito Santo e o baterista gaúcho Nenê formaram esse trio em 1993, para realizar uma turnê de 40 shows pela Europa. Ainda chegaram a fazer alguns shows pelo Brasil, em 1995, mas desde então não tocaram juntos, nem gravaram um CD.

A plateia que ocupou aos gritos as 1.500 poltronas do Municipal nem reclamou dos 35 minutos de atraso. Como num estádio de futebol, divertiu-se fazendo "olas". E, ao ver Hermeto, ovacionou o craque dos mil instrumentos.

Explosões criativas pipocaram no show, que começou com homenagem à cidade: "Êh São Paulo" (Alvarenga e Ranchinho), seguido por "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso). Na elástica releitura de "Wave" (Tom Jobim), esticada por "scats" (vocalizações) de Arismar, os sorrisos e caretas do baixista sinalizavam as liberdades que Hermeto tomava com a harmonia dessa canção. "Este trio é muito lindo porque não gosta de ensaiar", divertiu-se Hermeto.

Pena que um incômodo ruído no sistema de som do palco tenha incomodado o trio. A plateia foi impedida de ouvir a versão de "Round Midnight" (Thelonious Monk), que Hermeto esboçou, mas interrompeu, irritado. Não voltou a tocá-la, mas exibiu seu lirismo em delicada releitura de "Autumn Leaves".

E relembrou clássicos de sua obra, como "Bebê" e "Chorinho Pra Ele". Não chegou a ser um show histórico, mas pode ser um promissor recomeço para um trio brilhante, que poucos ouviram.

HERMETO PASCOAL, ARISMAR DO ESPÍRITO SANTO E NENÊ
AVALIAÇÃO bom