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    Animação de palestino aborda com humor a resistência anti-Israel

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    26/06/2015 12h25

    Um grupo de vacas, uma delas prenha, tenta sobreviver à caça de militares israelenses em território palestino ocupado. Essa poderia ser a sinopse do filme "The Wanted 18" ("As 18 Procuradas", em português), que estreou em Nova York na semana passada.

    Mas é apenas o ponto de partida que o diretor, Amer Shomali, usou para tratar com humor de um tema bem mais complexo: a resistência não violenta da Primeira Intifada (1987) na cidade de Beyt Sahour, ao sul de Ramallah.

    A história começa com a compra pelos moradores de 18 vacas. A intenção era ficar independente do suprimento de leite de Israel. O país, porém, reagiu com uma operação militar de perseguição às vacas, que se tornaram o símbolo cômico do movimento.

    ANIMAÇÃO

    A história, verdadeira, é contada numa mistura de animação, entrevistas e cenas filmadas com base nas lembranças de Shomali, que chegou à região pouco depois da Intifada, ainda criança.

    O documentário foi lançado nos Estados Unidos no festival da ONG Human Rights Watch, no Lincoln Center, em Nova York, no dia 13 de junho. Entrou em cartaz na cidade e em Los Angeles no dia 19. Será exibido em diversos países, sem previsão, por ora, de passar pelo Brasil. Uma das produtoras é a carioca Julia Bacha.

    Shomali não conseguiu viajar para os Estados Unidos para a estreia. Considerado uma ameaça por Israel, não pôde entrar no país para ir à embaixada americana. Remarcou o pedido de visto em Amã, na Jordânia, e, no dia de sua entrevista, o sistema de vistos americano caiu e não voltou até agora.

    O cineasta não perdeu o humor. Gravou um vídeo no box do banheiro que foi exibido na estreia lamentando sua ausência. Ele afirma que o riso é um método para gerar empatia no público, aproximá-lo de um tema árido e, quem sabe, sensibilizá-lo.

    "Se não puder rir de si mesma, uma nação jamais será capaz de superar suas dificuldades", diz. Quanto ao público, o objetivo é fazê-lo questionar-se: "Começarão a pensar o que fariam se fossem palestinos", palpitou Shomali à Folha. "E isso é mudança."

    CAETANO E GIL

    De Ramallah, na Palestina, onde mora, Shomali contou conhecer Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas preferir Chico Buarque. "Amo a conotação política de suas canções", justificou.

    Caetano e Gil têm sido criticados pela realização de um show em Tel Aviv em julho. Defensor do bloqueio cultural a Israel, no qual artistas deixam de se apresentar no país, assim como foi feito com a África do Sul no apartheid, Shomali engrossa o coro.

    "É triste saber da passagem deles por Israel. Sei que é tentador artistas do mundo todo mostrarem seu trabalho no mundo todo. Mas é essencial não perder a consciência. Do contrário, serão apenas cantores, pintores, dançarinos, não artistas", opinou. "Arte é fazer o mundo melhor e mais bonito."

    O cineasta argumentou que artistas devem se atentar à influência que exercem nos fãs. "O conceito de boicote cultural é a única ferramenta que temos como cidadãos globais para não apenas nos envolvermos na questão da ocupação israelense, mas também para mudar o mundo", afirmou.

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