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    Conservadorismo deixa teatro polonês de novo em perigo, afirma diretor

    NELSON DE SÁ
    DO ENVIADO À POLÔNIA

    02/07/2015 02h00

    Aos 71 anos, Krystian Lupa é uma espécie de Antunes Filho do teatro polonês. Em entrevista em sua casa, em Cracóvia, relata que os diretores de gerações posteriores "ficaram encantados com o teatro de Kantor, eu inclusive".

    Mas que, até sua morte, Kantor enfrentou "rejeição completa" do teatro dominante no país, então sob regime socialista. "Por outro lado, ele odiava o teatro tradicional. Criticava muito, tudo o que podia, sobretudo dizendo que é um modo mentiroso de contar história."

    Kantor morreu quando começava o colapso dos regimes pró-soviéticos no Leste Europeu. E o teatro polonês, que havia sido um veículo para a sobrevivência da própria língua polonesa, nos muitos períodos de dominação alemã e russa, precisou se repensar.

    Johanna Leguerre/AFP
    Cena de "A Classe Morta", peça do diretor polonês Tadeusz Kantor.
    Cena de "A Classe Morta", peça do diretor polonês Tadeusz Kantor.

    "Nos tempos do poder opressivo comunista, o teatro era um lugar de liberdade e de defesa de certos valores básicos humanistas. Depois da transformação, era preciso definir um novo papel." Foi quando o próprio Lupa e depois outros diretores se estabeleceram, encantados por Kantor, mas seguindo caminhos diferentes.

    "Nos últimos tempos, houve uma onda de jovens diretores que abordam problemas dos indivíduos e agora há uma tendência das autoridades, que não é boa, de discriminar esse teatro."

    Ele vai além e vê ameaças não só na política cada vez mais conservadora na Polônia, mas em toda a sociedade, no país e pela Europa.

    "Observa-se uma mudança de opinião de grande parte da sociedade, que começa a dominar, então pode ser que a arte tenha de voltar à posição de resistência", diz, remetendo a Kantor e outros da história teatral polonesa.

    Lupa lamenta que essa reação possa colocar a perder o esforço de décadas de artistas.

    "O perigo é que podem ser em vão os esforços de expressão artística, afinal, para educar a sociedade para o humanismo, para uma Europa unida, em paz, multicultural. Porque é questão de valores tradicionais, que essa parte da sociedade, cada vez mais dominante, tem como únicos. É um perigo."

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