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    Itália não foi acionada para escoltar Saviano em viagem ao Brasil

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO
    RAQUEL COZER
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY

    02/07/2015 02h00

    Oficiais italianos responsáveis pela análise da segurança dos deslocamentos do escritor Roberto Saviano não foram informados de que o autor cogitava viajar ao Brasil.

    Portanto, não autorizaram nem vetaram sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que começou nesta quarta (1º) e da qual seria o maior destaque.

    Na segunda-feira (29), ao anunciar o cancelamento da mesa de Saviano, a Flip informou que o jornalista, jurado de morte pela máfia napolitana desde que lançou "Gomorra", em 2006, "não foi autorizado pelos responsáveis por sua segurança a deixar o continente europeu".

    Reprodução
    Roberto Saviano posta selfie antes de palestra em Bristol, na Inglaterra
    Roberto Saviano posta selfie antes de palestra em Bristol, na Inglaterra

    A informação de que a Polizia di Stato (espécie de Polícia Federal italiana) não havia recebido nenhum pedido para a montagem de um esquema de segurança no Brasil foi confirmada por dois oficiais do órgão, que planeja e executa cada passo dado pelo autor, e por diplomatas com conhecimento do caso em Roma e no Rio.

    Confrontado com a informação obtida pela Folha, o comissário Mario Argenio, da Polizia di Stato em Roma, disse que não negaria nem confirmaria. "Qualquer deslocamento dele tem de ser planejado", limitou-se a dizer.

    No seu dia a dia, Saviano é protegido pelos "carabinieri" (corpo militarizado da polícia italiana), mas seus deslocamentos no exterior passam por análise da Polizia di Stato.

    Quando viaja a outros países, seus custos e segurança ficam por conta de quem o convida. Em alguns casos, policiais italianos participam de sua escolta no exterior.

    Dois caminhos poderiam ter sido tomados para a viagem de Saviano ao Brasil. O primeiro, mais simples: a organização da Flip enviaria todas as informações, inclusive um esquema de segurança previamente acertado, para que o próprio autor submetesse a viagem à análise da polícia, na Itália.

    Na última sexta, menos de uma semana antes do início da Flip –a vinda de Saviano foi anunciada em maio–, a organização do evento escolheu um percurso mais incerto: acionou a embaixada italiana em Brasília, que, por sua vez, recorreria ao Itamaraty e daí ao Ministério da Justiça até, por fim, o caso chegar à Polícia Federal, que ajudaria na escolta do autor.

    Procurada pela Folha, a PF informou jamais ter recebido esse pedido de apoio.

    Ainda que o tivesse recebido, haveria um impedimento legal, já que essa polícia só pode escoltar um estrangeiro quando se trata de uma autoridade em visita ao país.

    Segundo um delegado da Polícia Federal com conhecimento do caso, não faria sentido o Estado deslocar e custear uma equipe para proteger um cidadão estrangeiro comum, mesmo testemunha, que veio a um evento privado.

    O delegado, que pediu para não ter o nome mencionado, vê somente uma possibilidade de exceção, à brasileira: num caso de camaradagem extrema, a PF poderia pedir à PM do Rio, para onde Saviano iria, para assumir o caso e fazer a escolta. Claro que isso deveria ser aprovado pela polícia italiana.

    Segundo a Folha apurou, a Flip chegou a contatar o governo do Rio antes de acionar a embaixada italiana. Foi informada de que a polícia carioca poderia ajudar, mas que o pedido de segurança deveria passar antes pelo governo federal.

    SUBSTITUTOS

    Nesta quarta (1º), dois jornalistas, o britânico Ioan Grillo e o mexicano Diego Osorno, foram anunciados para a mesa "Jornalismo de Guerrilha", em substituição à de Saviano, no sábado, às 19h30.

    Grillo e Osorno são especializados na cobertura da guerra entre cartéis mexicanos de traficantes de drogas, que já levaram mais de 80 mil pessoas à morte no México.

    OUTRO LADO

    A organização da Flip diz ter sido informada pelos responsáveis pela agenda de Saviano de que o pedido oficial de ajuda entre os governos italiano e brasileiro seria feito por eles.

    Se não houvesse apoio da Polícia Federal brasileira para a escolta do jornalista, o evento teria de providenciar uma escolta particular simples, com dois guarda-costas.

    De acordo com a produção do festival, há cerca de dez dias a equipe do escritor informou que o pedido de ajuda já tinha sido feito à Embaixada da Itália no Brasil.

    Essa última conversa da equipe de Saviano com a Flip teria ocorrido por ocasião da compra das passagens ao Brasil —foram solicitadas duas, para ele e um acompanhante.

    De acordo com a organização do evento, a iniciativa de procurar diretamente a Embaixada da Itália no Brasil, na semana passada, decorreu da falta de resposta.

    A Flip também confirma ter acionado o governo do Rio.

    A reportagem não conseguiu localizar os responsáveis pela agenda do autor.

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