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    Debate tem Machado 'X-rated', safadeza e perguntas indiscretas

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY

    03/07/2015 23h54

    Cenas de literatura explícita foram vistas nesta sexta (3), na Festa Literária Internacional de Paraty.

    Para encerrar a noite, a mesa "Os Imoraes" reuniu o autor de "Pornopopeia", Reinaldo Moraes, e a organizadora da "Antologia da Poesia Erótica Brasileira", Eliane Robert de Moraes. Para gozo da plateia, os trocadilhos de duplo sentido foram mais avantajados do que os introduzidos nesta sentença.

    "Machado é foda", disse o escritor, que leu um texto seu "psicografado" de Machado de Assis.

    Desde guri ele adorava "Memórias Póstumas de Brás Cubas", mas encasquetou sobre como raios esse personagem e a amante consumavam o amor. "Mas porra, onde os caras trepam?"
    Ele decidiu, então, dar sua versão dos acontecimentos.

    No texto, disponível no site da Flip, Brás Cubas começa: "Chamei Virgília na chincha". E não demora para que narre como seu obscuro objeto de desejo "sugava e delambia meu phallus indômitus com salivosa sofreguidão".

    Se a mesa anterior falou de família, com Ana Luisa Escorel relembrando seus pais, Antonio Candido e Gilda de Melo Souza, esta trataria "de como muitas famílias são feitas", adiantou o mediador, o jornalista Daniel Benevides.

    Dito e feito.

    Reinaldo aqueceu a audiência discorrendo sobre as "crônicas safadas" de seu novo livro, "O Cheirinho do Amor" (Alfaguara). Agregou ali textos escritos para a revista "Status" –os títulos incluem "De Quatro na Bundolândia", "Fuque-fuque Tour" e "Sorria: Seu Pênis Está Sendo Filmado".

    Para honrar "a via cômica bonita na literatura erótica brasileira", como elogiou Eliane, o público entrou no clima e lançou perguntas indiscretas.

    Quis saber, por exemplo, se era verdade que Reinaldo e o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) tiveram um caso ("ele só passou a mão na minha perna") e se, tal qual o Zeca de "Pornopopeia", o autor se referia a seu membro sexual como "rocambole de carne" ("em geral não me refiro a ele, não digo sr. meu pênis").

    Em sintonia com o colega de mesa, Eliane explicou que a origem etimológica de "pica" pode apontar duas raízes: tanto uma ave "que come todo tipo de coisa" quanto a "perversão do paladar caracterizada pelo desejo de comer substâncias não nutrientes".

    Ela brincou que, nesse caso, "desde criança tinha pica".

    O colega de mesa completou: "É legal saber de onde a pica veio, às vezes pela frente, ou por trás".

    Sem largar esse osso, os convidados leram poemas como "A Pica Ressuscita a Mulher Morta", de Francisco Moniz Barreto (1804-1868).

    As gargalhadas na Tenda dos Autores, para Eliane, expressavam uma característica recorrente na humanidade. "A gente ri daquilo que pode ter alguma dificuldade de falar, de tocar, que mexe com os nossos subterrâneos."

    E não é de hoje que tiramos esses esqueletos do armário, disse. "Como dizia Mario de Andrade, bota dois brasileiros juntos e eles estão falando porcaria. Comecei a levar essas porcarias a sério."

    As mulheres, aliás, só recentemente começaram a ser levadas a sério na literatura erótica. Os debatedores lembraram como a presença feminina era tímida no gênero. Nomes como Hilda Hilst (1930-2004), Ana Cristina Cesar (1952-1983) e Adélia Prado simbolizaram uma mudança nesse quadro.

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