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    'A poesia é a alternativa a esse mundo terrível', diz Arnaldo Antunes na Flip

    JULIANA GRAGNANI
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY (RJ)

    04/07/2015 22h32

    Quem estava no último debate deste sábado (4) na Flip vai se lembrar de como Arnaldo Antunes e Karina Buhr comoveram o público em Paraty. O debate sobre poesia teve momentos singelos, com os dois em pé, cantando poemas.

    Foi uma mesa terna e bem humorada, com direito a plateia cantando junto e entoando um mantra criado por Arnaldo no fim –todos ficaram de pé e bateram palmas juntos. E foi também uma celebração da poesia, que ganhou vida nas vozes dos cantores e em suas falas –"A poesia é um veículo de resistência à estagnação da consciência, um estado de estranhamento, de surpresa, que resiste à estandardização dos costumes", disse Arnaldo. Antes da mesa começar, o curador da Flip, Paulo Werneck, anunciou, sob aplausos, que o livro mais vendido na Livraria da Travessa, livraria oficial do evento, era de poesia: "Jóquei" (Editora 34), da poeta portuguesa Matilde Campilho.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Mesa com Karina Buhr e Arnaldo Antunes na Flip, em Paraty (RJ)
    Mesa com Karina Buhr e Arnaldo Antunes na Flip, em Paraty (RJ)

    Arnaldo e Karina falaram sobre seus novos livros de poesia –"Agora Aqui Ninguém Precisa de Si" (Companhia das Letras), de Arnaldo, e "Desperdiçando Rima" (Fábrica 231/Rocco), de Karina– para uma tenda lotada. A tenda do telão, na parte exterior, também estava repleta de pessoas. Quem estava dentro ouvia a empolgação do público de fora.

    A mesa foi mediada por Noemi Jaffe, que desde o início pediu para os convidados lerem seus poemas –Arnaldo recitou de cabeça.

    Quando comentou o título de seu livro, "Agora Aqui Ninguém Precisa de Si" (Companhia das Letras), ele contou que criou um "mantrinha" para ele ("agora/aqui/ninguém precisa de si"); ao cantar, foi acompanhado por palmas e coro do público. A cena se repetiu com mais força no final do debate, a pedido de Jaffe.

    "A poesia é a alternativa a esse mundo terrível em que todos vivemos", afirmou Arnaldo. Ele elogiou o livro da pernambucana que lhe acompanhava na mesa. "Assim como ela, a poesia dela tem sotaque marcante. Tem uma marca muito singular, um imprevisto", afirmou.

    Karina tocou pandeiro e conquistou o público com o bom humor. Disse que o termo "mesa" para se referir aos debates e ausência de uma mesa de fato em cima do palco a confundia (no palco há apenas três cadeiras); levou seu celular apesar de proibido no local –"mas eu coloquei no modo avião", disse– para ler um texto da internet; revelou que seu livro saiu com atraso pela editora Rocco (ela pronuncia rócco) por causa "de Harry Potter" (os livros da série são publicados pela editora no Brasil).

    A cantora também comentou sua militância feminista, a pedido da mediadora. Karina afirmou que adoraria não precisar dizer que é feminista, "mas tem que dizer porque é uma agonia danada". "Tá longe de ficar tranquilo para a gente."

    A pernambucana também reclamou das restrições ao maracatu em Recife, que agora deve ser interrompido à noite, por causa da "lei do silêncio, dos bons costumes", segundo ela. Karina leu, então, texto de Mário de Andrade, homenageado este ano na Flip, escrito quando ele organizou uma missão para o Norte e o Nordeste do país para registrar a cultura popular, que lhe parecia ameaçada: "() da maneira que as coisas vão indo, a sentença é de morte", dizia o texto.

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