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    'Memórias de um Gigolô' é musical sobre a São Paulo dos anos 1930

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    10/07/2015 02h00

    São as memórias de um gigolô da boêmia paulistana, criado por uma cafetina e apaixonado por uma prostituta. É ainda a história de uma São Paulo no apogeu de seu crescimento industrial e das mudanças culturais e políticas pelas quais a cidade passou entre os anos 1930 e 1950. Ah, e também é cantado.

    O musical "Memórias de um Gigolô", que estreia nesta sexta-feira (10) na capital paulista, tem cara de espetáculo da Broadway: nos arranjos musicais, nos cenários grandiosos e nas transições de cena. Mas é todo brasileiro.

    Baseado no romance homônimo de Marcos Rey (1925-1999), publicado em 1968, foi adaptado por Miguel Falabella, que também escreveu letras originais (com músicas de Josimar Carneiro) e assina a direção da montagem.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Peça 'Memórias de um Gigolô', com Leonardo Miggiorin (terno vermelho), Mariana Rios (e Marcelo Serrado (terno e chapéu escuros)
    Peça 'Memórias de um Gigolô', com Leonardo Miggiorin (terno vermelho), Mariana Rios (e Marcelo Serrado (terno e chapéu escuros)

    "Claro que eu bebi da fonte [de musicais americanos], não tenho menor problema com isso", afirma Falabella. "Mas acho que a gente precisa criar produtos nossos."

    Após uma leva de adaptações da Broadway, desde "Os Miseráveis" (2001), o Brasil começa a apostar na mesma fórmula americana, porém com texto e canções nacionais, avalia o diretor.

    "É um mercado que está sendo criado no país, estamos começando a dominar a linguagem do gênero."

    É o caso do recente "Bilac Vê Estrelas", também em cartaz em São Paulo: o musical é inspirado em obra do colunista da Folha Ruy Castro, retrato da belle époque carioca, e tem músicas originais do sambista Nei Lopes.

    "Falar da gente é muito importante. Adoro quando eu me reconheço", afirma o ator Marcelo Serrado, um dos protagonistas de "Gigolô".

    Falabella, porém, diz que ainda há dificuldades em se conseguir patrocínio para produções nacionais. "Gigolô" captou R$ 3 milhões via Lei Rouanet. Espetáculo de mesmo porte, "Antes Tarde do que Nunca" –versão da Broadway com Falabella no elenco e com estreia marcada para 20 de agosto em São Paulo– angariou R$ 5,6 milhões também pela Rouanet.

    AMOR POR SP

    Em "Memórias de um Gigolô", Mariano (Leonardo Miggiorin) relembra a sua história. Órfão criado dentro de um bordel, aprende ali os trambiques da vida e o ofício de gigolô. "Ele perde tudo e é obrigado a aprender a ganhar da vida", conta Miggiorin.

    É ali também que se apaixona pela prostituta Guadalupe –papel da atriz e cantora Mariana Rios. Mas a moça vê seu coração dividido entre Mariano e o cafetão Esmeraldo (Serrado), seu protetor.

    O triângulo amoroso tem como pano de fundo as transformações de São Paulo entre os anos 1930 e 1950: o crescimento urbano e industrial, a política do café com leite, a Revolução de 1932, as manifestações artísticas. E, principalmente, a boêmia da época.

    O espírito de uma cidade que pulsa, resume o diretor. "A São Paulo que retratamos é encantadora. É uma cidade de arranha-céus quando o Brasil ainda era um brejo."

    "[Marcos Rey] é um autor que tem amor por São Paulo", completa Serrado.

    Falabella conta que há muito tempo se interessa pelo romance –que também deu origem a uma minissérie com Bruna Lombardi, exibida pela TV Globo em 1986– e que foi com o livro que o diretor carioca passou a gostar de São Paulo.

    "A prosa dele é muito interessante. Se [Marcos Rey] tivesse se dedicado mais à literatura adulta [escrevia para o público infantojuvenil], ele seria o nosso Balzac."

    MEMÓRIAS DE UM GIGOLÔ
    QUANDO qui., às 21h, sex., às 21h30, sáb., às 18h e às 21h30, dom., às 18h; até 30/8
    ONDE Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2.823, tel. (11) 3083-4475
    QUANTO de R$ 50 a R$ 180
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos

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