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    crítica

    'O Sucesso a Qualquer Preço' expõe rugas de texto realista

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/07/2015 02h35

    "O Sucesso a Qualquer Preço" (1983) não envelheceu tão bem. Passados mais de 30 anos de sua estreia nos EUA, a peça que rendeu a David Mamet um prêmio Pulitzer traz as rugas de um teatro realista, embora divertido e hábil naquilo que se propõe, um pouco desgastado pelo rigor acadêmico.

    Nada contra o teatro realista; o próprio Mamet tem outras peças mais fortes do gênero, como "Oleanna", que esteve em cartaz em maio e junho no Sesc Pompeia, com direção de Gustavo Paso.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Os atores André Garolli (em pé) e Norival Rizzo na peça "O Sucesso a Qualquer Preço".
    Os atores André Garolli (em pé) e Norival Rizzo na peça "O Sucesso a Qualquer Preço".

    A diferença é que "Oleanna" parece se expandir a partir de traços elementares do realismo, atravessa fronteiras, enquanto "O Sucesso a Qualquer Preço" tem hoje todos os contornos reconhecíveis de um exercício –ainda que muito bem realizado.

    De qualquer forma, Mamet sempre diverte, você senta na poltrona e sorri para ele. A peça tem viradas surpreendentes, diálogos bastante tensos do início ao fim.

    E, no caso da montagem de Alexandre Reinecke em cartaz no Teatro Vivo, tem também um ator brilhante em cena, Norival Rizzo, que faz valer o ingresso.

    Rizzo interpreta um velho corretor de imóveis, empregado em uma imobiliária que não anda bem das pernas. O personagem foi um dos melhores vendedores da empresa, mas agora passa dificuldades: profissionais mais jovens superaram sua capacidade de empurrar o produtor errado para a pessoa certa.

    Com muito domínio técnico e uma leitura original do texto, Rizzo desenha esse personagem na fronteira exata entre a safadeza e o desespero de ter sido posto de escanteio. Durante a história, ele vai tentar uma última virada. Recurso elementar –nós, espectadores, esperaremos pelo desfecho.

    Os outros seis atores do elenco, com destaque para Marco Pigossi (jovem agressivo) e André Garolli (gerente do grupo), fazem o jogo andar no limite de um bom desempenho. A trama, porém, os encobre um pouco, especialmente após um momento crucial da peça, em que o escritório é roubado.

    A partir dali, o contorno de crônica acaba um pouco de lado. A peça patina no enigma "quem roubou?".

    A direção da peça parece dar espaço aos intérpretes, a variação de luz é mínima, o cenário se resolve com mesas e persianas, sem grandes ideias.

    O que apaga um pouco alguns momentos é o didatismo. Mamet já é ele próprio didático. Tentar torná-lo ainda mais claro desperdiça justamente a chance de jogá-lo no ano 2015. Mas isso Rizzo, especialmente ele, não faz.

    O Sucesso a Qualquer Preço
    QUANDO: SEX., ÀS 21H30; SÁB., ÀS 21H; DOM., ÀS 18H; ATÉ 6/9
    ONDE: TEATRO VIVO - AV. DR. CHUCRI ZAIDAN, 860; TEL. (11) 97420-1520
    QUANTO: R$ 50 A R$ 60
    CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS

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