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    Análise

    Fiorucci levantou o bumbum feminino e deu pontapé na moda nacional

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    20/07/2015 19h18

    "Comprei um Reebok e uma calça Fiorucci, ela não quer usar. Eu não sei o que faço pra essa mulher eu conquistar." O verso de "Pelados em Santos" (1995), hino do grupo Mamonas Assassinas, resume em poucas palavras o legado que o estilista Elio Fiorucci, morto na segunda-feira (20), em Milão, deixou para a moda mundial.

    O símbolo dos dois anjos impressos na parte de trás de seus jeans não era apenas sinônimo de status, mas de desejo, conquista e orgulho das próprias curvas para quem os usava.

    Daniel Dal Zennaro/Efe
    O estilista italiano Elio Fiorucci, encontrado morto nesta segunda (20).
    O estilista italiano Elio Fiorucci, encontrado morto nesta segunda (20).

    Talvez ele não imaginasse que subir o cavalo das calças e estreitar a largura das coxas, em 1972, se transformasse num padrão na indústria da moda, nem que sua criação chegasse a vender mais de 1 milhão de cópias em um único ano. Mas, sem dúvida, intuiu que aquele jeans invadiria as boates e os círculos "fashion" mundo afora.

    Mestre em reconhecer o que os jovens queriam consumir, introduziu a ideia de loja conceito, lugar onde além de moda é vendido música, aparelhos de som, livros e até obras de arte, já nos anos 1970.

    Íntimo de toda uma geração de figuras pop – o jornalista Thruman Capote e os artistas plásticos Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat viviam em sua loja nova-iorquina e promoviam festas com o estilista, que, aliás, foi quem armou a primeira noite do clube Studio 54, em 1977 –, foi também o primeiro a aproximar a arte da moda.

    Tornou-se referência uma noite de 1984 em que o artista plástico Keith Haring pintou e decorou a loja Fiorucci de Milão, primeira do Elio e aberta em 1967, onde as pessoas consumiam obras de arte e moda ao mesmo tempo.

    "Ele permitiu que o jeans entrasse de vez na boate", define a consultora de moda brasileira Gloria Kalil. Amiga e ex-representante da marca no país, ela conta que, antes de Fiorucci, o jeans brasileiro era usado apenas nas viagens de fim da semana. "Todas as marcas, como Zoomp e Forum, estavam do lado de fora, como se esperassem para entrar. Depois dele, o jeans virou uniforme da noite."

    Quando trouxe a marca para o país, no final dos anos 1970, Kalil produzia as peças em território brasileiro, porque o Brasil ainda não permitia a entrada de produtos importados.

    "Viajava a Milão e conhecia todas as inovações de Elio, que, por exemplo, foi o primeiro a introduzir borracha nas roupas e plástico nos sapatos", relembra a empresária.

    Após a marca falir por má gestão, no final dos anos 1990, e ser vendida para o grupo japonês Edwin, o contato de Kalil com Elio se dava por telefone e nas visitas que ela fazia à Itália.

    Fiorucci sonhava em investir no Brasil por meio de sua marca Love Therapy, uma espécie de cópia do universo lúdico e de sonhos que criou com a Fiorucci.

    "Quando se copia algo que já foi feito, não dá certo. Há alguns meses ele me ligou para pedir uns contatos de pessoas aqui no Brasil. Ele estava bem, não tinha doença nenhuma. Morreu como todos queriam morrer, dormindo."

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