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    Equipe de novo 'Star Wars' agrada fãs ao prometer menos efeitos digitais

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    23/07/2015 02h00

    Entre 1980 e 2002, o mestre Yoda da saga "Star Wars" passou por uma recauchutagem de proporções intergalácticas.

    De ancião vagaroso, manipulado como uma marionete pela equipe técnica de "Star Wars: O Império Contra-Ataca" (1980), o sábio jedi evoluiu –ou involuiu, segundo os mais radicais– para um guerreiro que rodopia e solta raios, fruto da computação gráfica que empanturrou "Star Wars: O Ataque dos Clones" (2002).

    Divulgação
    Luke Skywalker carrega o mestre Yoda em cena do filme "O Império Contra-Ataca" (1980).
    As versões digital e tradicional de Yoda em "Ataque dos Clones" (2002) e "Império Contra-Ataca" (1980).

    Se por um lado os efeitos especiais gerados por computador (CGI) desbravaram fronteiras para Hollywood nos últimos anos, seu uso indiscriminado fez muito fã sentir falta dos recursos à moda antiga –mais rústicos, é verdade, mas algumas vezes mais críveis.

    Para o próximo episódio de "Star Wars", "O Despertar da Força", longa mais aguardado do ano e que estreia em 17 de dezembro no Brasil, o diretor J. J. Abrams promete: o boneco contra-atacará.

    O recado é claro aos fãs mais tradicionais da saga de George Lucas que chiaram com os malabarismos digitais dos últimos três filmes, lançados em 1999, 2002 e 2005.

    Divulgação
    Mestre Yoda recriado com efeitos digitais em "Star Wars: Episódio II: O Ataque dos Clones".
    Mestre Yoda recriado com efeitos digitais em "Star Wars: Episódio II: O Ataque dos Clones".

    "Há muitos efeitos computadorizados no filme", disse Abrams, entusiasta declarado de produções dos anos 1980, ao site "Collider". "Mas era importante que o filme tivesse um quê tangível, autêntico [...] Em muitas situações usamos efeitos tradicionais."

    Há pouco mais de dez dias, a produção do filme soltou na rede um vídeo de bastidores: cenários filmados em locações reais em vez de cidades criadas digitalmente, atores fantasiados de alienígenas, fumaça e explosões de verdade.

    "Um pé no mundo pré-digital", diz Mark Hammil, intérprete de Luke Skywalker na trilogia de 1977 a 1983, que volta ao papel 32 anos depois.

    VIROU PIADA

    "Há um apetite do público de retorno a técnicas mais tradicionais", diz à Folha Gustav Hoegen, designer de animatrônica (robôs e bonecos mecanizados). Para ele, que trabalhou em filmes como "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (2005), de Tim Burton, e "Prometheus" (2012), de Ridley Scott, o cinema vive um revival do chamados "efeitos práticos".

    As últimas décadas apinharam os blockbusters de monstros, ambientes e sequências de ação inteiramente gerados por computador, e não mais por técnicas como robôs, figurantes maquiados e cenários.

    "O CGI é mais rápido e prático no set e poupa tempo de construir cenários", diz à reportagem John Rosengrant, supervisor de efeitos especiais em "Os Vingadores" (2012) e "Jurassic World" (2015).

    Mas a panaceia virou piada em vídeos na internet que compilam o que há de mais tosco dos efeitos especiais digitais: o James Bond surfista de "007: Um Novo Dia para Morrer" (2002) e o vilão com cara de desenho animado de "O Retorno da Múmia" (2001).

    Peter Jackson, diretor das trilogias "O Senhor dos Anéis" (2001-03) e "O Hobbit" (2012-14) serviu de contra-exemplo para os detratores do CGI. Se nos primeiros filmes confiou em centenas de figurantes fantasiados e maquiados para recriar os monstruosos orcs, nos mais recentes optou por construí-los digitalmente.

    MAIS REALISTA

    A notícia de que a equipe do novo "Star Wars: O Despertar da Força" irá "maneirar" no uso de computação gráfica animou técnicos de efeitos especiais tradicionais.

    "Bato nessa tecla da qualidade dos efeitos práticos há anos, mas, com o novo 'Star Wars', o apelo vai ganhar muito mais projeção", diz à Folha Tom Woodruff Jr, responsável por criar artesanalmente os alienígenas dos filmes "Alien" e ganhador do Oscar de efeitos especiais de "A Morte lhe Cai Bem" (1992).

    Para Woodruff, o combo robô-maquiagem-cenário real tende a tornar o resultado do filme mais crível. "O set respira, a interpretação fica melhor: tudo está no mesmo espaço que os atores", afirma.

    Na computação gráfica (CGI), o efeito especial é acrescido na pós-produção do filme, após as filmagens.

    Segundo Woodruff, a profusão do CGI também tem a ver com o grande número de produtores nos recentes blockbusters. "É tanta gente para agradar que fica mais fácil incluir tudo o que cada um quer na finalização", opina. "Mas o resultado deixa todos os filmes iguais, é cansativo."

    Para Gustav Hoegen, que criou efeitos especiais de "Fúria de Titãs" (2010), técnicas tradicionais tendem a ser mais realistas do que o CGI porque "obedecem às leis da física."

    O capixaba Rodrigo Aragão cria artesanalmente os monstros dos filmes de terror que dirige. Levou seis meses para confeccionar o vilão de seu "A Noite do Chupacabras" (2011). "O boneco, mesmo quando é tosco, é mais legal do que aquele visual de videogame", diz.

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