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    Críticos reclamam que Pantone se vendeu ao usar 'amarelo minion'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    27/07/2015 02h01

    Amarelou a relação entre designers e a Pantone, empresa de Nova Jersey (EUA) famosa pela cartela de cores amplamente usada na indústria gráfica. A culpa é da tonalidade introduzida em abril no catálogo: o "amarelo minion".

    É a primeira vez que a Pantone se alia a um blockbuster e usa nome de personagem para nomear uma cor -os "Minions", produção da Universal com a Illumination Entertainment. Para críticos, a parceria é uma casca de banana, e a companhia escorregou feio ao "se vender" para gigantes do entretenimento.

    As criaturinhas que varam séculos em busca de um vilão para servir (de Gengis Khan a Drácula) roubaram a cena em "Meu Malvado Favorito" (2010) e ganharam filme próprio. Com mais de R$ 100 milhões arrecadados desde 25/6, "Minions" superou "A Era do Gelo 4" como a maior bilheteria de animação no Brasil.

    Viraram pepita de ouro nas mãos do Exim, grupo responsável por seu licenciamento e que também cuida de Romero Britto e "Breaking Bad". Para ficar em dois exemplos desse tipo de licenciamento, o McDonald's criou batatas fritas com o formato dos minions, e as balinhas Tic Tac fizeram uma edição oval, amarela e com olhinhos.

    Não se sabe se a Pantone pagou pelo uso do nome ou se foi uma parceria considerada boa para as duas empresas.

    Criada em 1963, a Pantone serve como um esperanto (aquela língua que pretendia ser universal) das cores que deu certo. Se uma grife quer importar camisas verdes da China, recorre sem erro à paleta da empresa, mundialmente padronizada.

    Até a Barbie possui seu "rosa perfeito" na escala Pantone, mas o nome da cor é simplesmente 219C (cada matiz tem seu número serial), e não "rosa barbie".

    ESTRANHEZA

    São mais de 10 mil tonalidades catalogadas. O grosso do faturamento da empresa vem de consultorias e de seus manuais. O guia com 1.755 cores custa R$ 850 no site brasileiro da marca.
    Ao entrarem nesse self-service cromático, os minions estariam abrindo um precedente perigoso, avaliam profissionais ligados à área gráfica.

    Mais de 2.000 pessoas replicaram um post no Twitter do designer nova-iorquino Bobby McKenna, que deu partida na insatisfação da classe. "Cadê seu Deus agora, designers?", questionou ele, ao reproduzir o anúncio do "amarelo minion".

    "Como 99% das marcas são uma bosta, nós tínhamos essa ideia de que a Pantone era uma exceção", afirma McKenna à Folha. "Acho que as pessoas se chatearam ao ver uma empresa 'cool' se jogar nesse marketing estúpido."

    Para o arquiteto Ricardo Ohtake, que dirige o Instituto Tomie Ohtake e tem um escritório de design gráfico, "estamos num mundo horroroso, onde tudo é mercantilizado. Isso dificulta a vida, você fica só querendo dinheiro".

    O designer Rico Lins estranhou a "pegada mercantilista" da empreitada. "Não é um cataclisma, mas pega mal."

    Eliane Stephan, que assinou o projeto gráfico de 1996 da Folha, abaixa o tom. "Para a companhia é interessante que seu nome apareça em algo que faz um sucesso danado. A gente fica discutindo demais por coisas que não têm a menor importância."

    "Assim como os raios do sol nos põem para cima, [...] esta é uma cor de esperança, alegria e otimismo", disse a diretora-executiva da companhia, Leatrice Eiseman, no lançamento da nova tonalidade.

    "Dada a popularidade mundial dos minions, parecia natural batizar pela primeira vez em nossa história a cor com o nome de um personagem", completou a vice-presidente Laurie Pressman.

    Menos inocente são os interesses comerciais por trás disso, acusam os detratores da novidade. O "amarelo minion" foi incluído na paleta da Pantone para decoração de interiores -para colorir o quarto dos filhos, por exemplo.

    "Apenas aguarde a parceria com 'Os Vingadores', e que a Disney comece a possuir cores. Verde Hulk. Cinza Homem de Ferro. Você pode imaginar para onde isso está indo", diz Alissa Walker, editora do site de tecnologia "Gizmodo".

    MARCA REGISTRADA

    Está na lei brasileira: é impossível patentear "cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo".

    Você pode batizar esmaltes com os nomes mais estapafúrdios (tem o rosa "Ha Ha Ha" e o bege "Panqueca Doce"), mas não pode patentear o tom, diz Vinicius Bogéa Câmara, diretor de marcas do INPI (instituto federal para a propriedade intelectual).

    O que pode, aí sim, é ter uma cor como marca registrada. Assim, um estabelecimento que vende café pode ter problemas se puser o verde do Starbucks (3298C) na fachada.

    A marca de chocolate Cadbury processou (sem êxito) a Nestlé por usar seu roxo na embalagem. No ramo dos cosméticos, a batalha legal continua: a Beiersdorf quer garantir exclusividade sobre o azul dos produtos Nivea e é questionada pela Unilever (Dove).

    Questionada, a Pantone não quis comentar a controvérsia, apenas respondeu ser uma fonte aberta da "linguagem das cores".

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