• Ilustrada

    Saturday, 04-May-2024 07:45:05 -03

    Fazer imagens é fácil; difícil é decifrá-las, analisa crítico

    FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

    27/07/2015 02h04

    David Levi Strauss é um otimista. Embora corra o risco de ser chamado de arcaico, o crítico defende uma antiga crença sobre a fotografia em seu livro mais recente, "Words Not Spent Today Buy Smaller Images Tomorrow".

    Para ele, as imagens permanecem na era digital como instrumento de evidência e conscientização sobre a realidade.

    Em "Words Not Spent...", coleção de "ensaios sobre o presente e o futuro da fotografia", Strauss faz uma leitura do poder político de fotos documentais e artísticas em um momento em que a pós-fotografia propõe um novo entendimento sobre o uso da imagem.

    O ensaísta britânico John Berger elogiou os escritos de Strauss, professor da School of Visual Arts, em Nova York, e um dos críticos de fotografia mais prestigiados dos Estados Unidos, por priorizarem "o que tem sido esquecido, o que é sistematicamente censurado e o que nós precisamos lembrar amanhã".

    Nos ensaios, o americano alerta para os efeitos de uma produção crescente e uma distribuição mais ampla em plataformas digitais como Flickr, Snapchat, Instagram, Facebook e WhatsApp. Segundo o Yahoo, 880 bilhões de fotos foram produzidas em 2014.

    Divulgação
    "Massacre de My Lai", obra fotográfica do americano John Wood, realizada em 1969
    "Massacre de My Lai", obra fotográfica do americano John Wood, realizada em 1969

    "Podemos produzir, guardar, manipular e selecionar fotografias com uma rapidez inédita, mas não conseguimos decifrá-las. Esse é um processo que exige mais tempo do que aquele imposto pela economia de mercado", diz ele.

    "Nós examinamos as imagens com menos frequência e menos cuidado". De acordo com o crítico, uma observação descuidada leva à perda de autonomia política. "As fotografias perdem significado e viram informação, um elemento que precisa ser apenas administrado."

    Ao contrário da escritora Susan Sontag e dos críticos pós-modernos, Strauss considera as fotografias uma oportunidade legítima para lidar com o mundo real e o aparente.

    "Muitos têm tratado o ponto de vista dos pós-modernos como uma verdade inquestionável. Mas com o 11/9, que abalou as teorias persistentes sobre os significados das imagens, o nosso pensamento pôde tomar um rumo novo", defende Strauss.

    ESCOLHA HUMANA

    "Mais uma vez reconhecemos e confrontamos a nossa atração irracional e persistente pelas fotografias, capazes de ser um termômetro confiável das aspirações que orientam um sistema político e social."

    Ao argumentar a favor dessa opinião, Strauss analisa os trabalhos de artistas (Chris Marker, Frederick Sommer, Carolee Schneemann, Jenny Holzer, Larry Clark), de fotojornalistas (Susan Meiselas, Kevin Carter, James Natchwey) e de fotógrafos de rua (Helen Levitt, Daido Moriyama).

    Haveria entre eles um elemento comum: "O testemunho de um escolha humana sendo realizada em uma certa circunstância". Tal noção, diz Strauss, "é o que faz o exame das fotografias importante para qualquer discussão sobre a liberdade humana".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024