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    Adriana Calcanhotto junta bambas para tributo a Lupicínio Rodrigues

    THALES DE MENEZES"
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    28/07/2015 17h41

    Adriana Calcanhotto costuma dizer que faz teatro. Realmente, seus shows são desfiles de músicas encenadas, em que cenários, roupas e movimentação dela e de seus músicos respeitam um roteiro. Deu muito certo em seus DVDs recentes, "Micróbio Vivo" e "Olhos de Onda".

    Desta vez, a cantora não registra uma turnê. "Loucura" é a gravação de um único show, aplaudido com entusiasmo no dia 4 de dezembro de 2014, no Salão de Atos da UFRGS, um auditório da universidade federal que é muito familiar para Adriana, 49.

    "Minha mãe fundou e dirigiu o Grupo de Dança da Universidade, que se apresentava ali. Eu acompanhava também os ensaios, o espaço é uma casa para mim."

    Luciana Whitaker/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 22-07- 2015, 14h30: A cantora Adriana Calcanhotto que lança novo DVD com músicas de Lupicínio Rodrigues. (Foto: Luciana Whitaker/ Folhapress, ILUSTRADA)
    Gaúcha residente no Rio, a cantora Adriana Calcanhotto dança na areia da praia do Leblon

    Mas há um outro fator para deixar a gaúcha tão à vontade nesse show. Ela aceitou um convite do projeto "Unimúsica - Série Compositores" para cantar o repertório de Lupicínio Rodrigues (1914-1974).

    Cantor e compositor gaúcho extremamente popular, ele criou inúmeras canções sobre dor de cotovelo. As crianças gaúchas, exagera Adriana, antes mesmo de falar já aprendem seus sucessos, como "Felicidade", "Esses Moços" e "Nervos de Aço".

    Ela lembra do período em se apresentava com voz e violão na noite, entre 1984 e 1985. "Lupicínio havia morrido dez anos antes, mas sua presença era muito forte. Seus colegas contavam histórias, as músicas continuavam sendo cantadas nos bares."

    Quando planejou o show, ela primeiro pensou nos violões. "O começo é sempre pelo violão", diz. Dadi Cravalho, parceiro constante, entrou na empreitada e indicou o violonista baiano Cézar Mendes, com um entendimento vasto de Lupicínio que a cantora desconhecia.

    Depois ela chamou Alberto Continentino para o contrabaixo acústico, que já a acompanhou em turnês. "Com o Alberto na banda, todo mundo toca melhor. É o grande condutor", elogia.

    A inclusão de Jessé Sadoc soprando flugelhorn e trompete destoa um pouco do clima de bar pensado para o show, mas ele tem grandes momentos de solo, principalmente nas primeiras canções.

    PALETÓ E GRAVATA

    O show, num cenário de mesas e cadeiras para lembrar um bar, abre com uma Adriana estática cantando as primeiras músicas -de cabelos presos, paletó e gravata. No avançar da apresentação, ela vai se soltar e terminar sambando desenvolta.

    Após algumas músicas, Adriana vai chamando convidados. Quando canta "Cadeira Vazia", a banda se retira, e Arthur Nestrovski entra com violão e ganha o público com um acompanhamento impecável para a voz da cantora em números populares como "Nervos de Aço".

    Arthur de Faria, no acordeom, e Cid Campos, no violão, também entram para a banda. Com toque de blues, Campos é o mais "estranho no ninho". "Ele se surpreendeu quando o chamei", conta Adriana, "mas sabia que ele teria muito a colaborar."

    Apesar dos perfis tão distintos, Adriana destaca uma característica comum de seus acompanhantes: "Todos são compositores. E quando um compositor se dedica ao repertório de outro, é diferente de quem é só intérprete. Também são construtores de canções, então querem entender o processo do outro."

    Talvez esse seja o segredo para uma constatação inevitável de quem assiste ao show gravado. Mesmo com apenas um dia de ensaio, os músicos e a cantora mostram uma química fantástica. Dão a impressão que estão no final de uma turnê com esse material, tal a fluidez do som.

    É com todos esses músicos no palco que o show toma seu corpo definitivo e empolga a plateia com "Felicidade" e "Se Acaso Você Chegasse", quando Adriana dispara a sambar pelo palco. Sambadinha de gaúcha, alegre mas discreta.

    Após conquistar a plateia, o bis tem "Cenário de Mangueira" e o hino do time do Grêmio, item forte no repertório de Lupicínio. Nestrovski, torcedor do Internacional, toca vestindo uma malha vermelha, em "protesto".
    Numa análise final, Adriana arriscou muito e se deu bem. "Um dia de ensaio foi uma aposta arriscada. Poderia dar tudo errado", diz a cantora. Mas deu muito certo.

    LOUCURA
    Artista Adriana Calcanhotto
    Gravadora Sony Music
    Quanto R$ 35 (DVD) e R$ 25 (CD)

    O jornalista THALES DE MENEZES viajou ao Rio a convite da gravadora Sony Music

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