• Ilustrada

    Sunday, 19-May-2024 11:47:00 -03

    CRÍTICA

    Em documentário, diretora revisita filme de ficção feito há quase 15 anos

    SÉRGIO ALPENDRE
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/07/2015 02h20

    Os índios kadiwéu, como vivem, seus costumes e crenças, são o motivo sobre o qual se debruçam Lúcia Murat e Rodrigo Hinrichsen em "A Nação que Não Esperou por Deus", documentário que se anuncia com um diferencial: a estética conta, sim.

    É com belas imagens da região onde eles vivem, no Mato Grosso do Sul, que se inicia o longa, e prossegue mostrando as pessoas, seus afazeres e lutas, num balé de movimentos e olhares que vai na contramão da tendência eminentemente jornalística do documentário brasileiro.

    Não que a investigação esteja ausente aqui. Ao contrário, a investigação é o próprio motor do filme. Mas essa ambição, digamos, jornalística, não anula a preocupação com a composição, com o que a câmera escolhe mostrar do que se descortina à sua frente.

    O filme é uma retomada de "Brava Gente Brasileira" (2001), o melhor trabalho de Murat até então. Trata-se de uma ficção sobre as demarcações de terras que eram originalmente dos índios e que os brancos resolveram tomar.

    Divulgação
    Criança kadiwéu em cena de 'A Nação que Não Esperou por Deus
    Criança kadiwéu em cena de 'A Nação que Não Esperou por Deus'

    A ação se passa no fim do século 18, portanto, no Brasil colonial. Murat filmou com a ajuda dos kadiwéu, justamente onde eles moravam. Os portugueses são os vilões.

    Em "A Nação que Não Esperou Por Deus", a intenção é reencontrar os índios atores do longa anterior para ver como vivem, como cresceram, como são os conflitos atuais, além das mudanças em seus costumes. Da ficção nasce o documentário. Após o sonho é revelado o fato.

    Muita água correu nos 14 anos que separam os dois longas. A luz elétrica chegou aos kadiwéu, que agora assistem aos programas ruins da televisão. Assistem também a eles mesmos no filme anterior. Suas casas se tornaram modernas, o desenraizamento se acelerou, alterando ainda mais suas vidas.

    Sobram as perguntas. Quais as vantagens e desvantagens dessa mudança? Estão certos ou errados aqueles que foram para a cidade? E os que ficaram e agora lutam por suas terras? Quem somos nós para julgá-los?

    A NAÇÃO QUE NÃO ESPEROU POR DEUS
    DIREÇÃO: LÚCIA MURAT E RODRIGO HINRICHSEN
    PRODUÇÃO: BRASIL, 2015, LIVRE
    ELENCO: ADEMIR MATCHUA, HILÁRIO SILVA, EDNA MARCELINO, D. LAIR SILVA

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024