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    Filha resgata lado músico de Paulo Leminski; ouça

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    30/07/2015 15h30

    Você conhece o poeta, mas para ela Paulo Leminski (1944-1989) era o pai rock and roll.

    "Quando saiu o filme do Sid Vicious ['Sid & Nancy', de 1986], ele viu umas 30 vezes seguidas. Ficou 29 dias pagando a multa da locadora", lembra Estrela Ruiz Leminski, 34.

    No álbum "Leminskanções", a caçula de Paulo com a poeta Alice Ruiz resgata a verve musical do responsável por poemas como "Incenso Fosse Música" ("isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além").

    Em CD duplo, Estrela interpreta canções do pai (algumas inéditas) achadas em fitas K7.

    Arquivo pessoal
    Estrela Leminski e o pai, Paulo Leminski, nos anos 1980
    Estrela Leminski e o pai, Paulo Leminski, nos anos 1980

    O projeto é uma parceria com o marido, Téo Ruiz (o sobrenome é coincidência), e conta com participações de Arnaldo Antunes, Ná Ozetti e Zélia Duncan. Neste sábado (1º), vira show no Sesc Santana. Na sexta (31), a dupla lança o "Songbook Paulo Leminski", compilado com seu repertório.

    Estrela nasceu na semana em que Caetano Veloso pôs na praça o disco "Outras Palavras" (1981). Uma das composições de seu pai, "Verdura", está lá e diz assim: "De repente vendi meus filhos/ a uma família americana". Itamar Assumpção (1949-2003), Moraes Moreira e Arnaldo Antunes também cantaram músicas do curitibano que rivalizava com Belchior no quesito "grandes bigodes da cultura brasileira".

    Com Guilherme Arantes, escreveu "Xixi nas Estrelas", sobre "homens-pássaros do espaço" que se aliviavam no céu.

    Antes de ser poeta, músico, professor de judô e de cursinho de vestibular, tradutor de James Joyce e John Lennon, Leminski quis virar padre.

    Mas não deu certo como seminarista do Mosteiro de São Bento. "Encontraram uma revistinha com Brigitte Bardot sob seu travesseiro. Acharam melhor que seguisse o matrimônio. Pra minha sorte", diz Estrela. Dos cantos gregorianos, pelo menos, Leminski herdou "a criação melódica".

    Estrela tinha oito anos quando o pai morreu, de cirrose hepática. Ficou a lembrança do sujeito de chinelão a cantarolar de MPB à "Marcha da Cueca" ("Eu mato, eu mato/ Quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato").

    "A Você, Amigo" é uma das músicas gravadas por Estrela e Téo. Leminski faz um aceno a um amigo após brigarem "por diferença ideológica", diz ela. "Na época, hippies viravam yuppies." Caso do colega.

    A faixa "Navio" fala de despedidas e foi composta após Leminski enfrentar uma série de perdas —pai, mãe, um irmão e o filho Miguel, vítima de um linfoma aos 10 anos.

    Para o amigo Jorge Mautner —que o convidou para abrir shows em Curitiba—, a morte de Miguel, em 1982, foi avassaladora, e isso pode ter prejudicado sua música. "Carismático e com uma voz ótima", o curitibano dedilhava o violão "com fúria criativa", lembra.

    Numa foto clássica, o judoca Paulo se defende de um chute do praticante de aikidô Jorge. "Ele era assim: o caos, o amálgama, o tempo todo."

    Arte Fernanda Giulietti

    Escute trechos de duas composições de Paulo Leminski

    Verdura

    Ouça

    Valeu

    Ouça

    Daryan Dornelles
    Estrela Leminski, filha de Paulo Leminski, e seu marido, Téo Ruiz
    Estrela Leminski, filha de Paulo Leminski, e seu marido, Téo Ruiz

    SONGBOOK LEMINSKI
    EDITORA Iluminuras
    QUANTO R$ 96
    LANÇAMENTO sex. (31), às 18h, na Livraria Cultura da av. Paulista, 2.073, tel (11) 3170-4033

    LEMINSKANÇÕES
    QUANDO sáb. (1º), às 19h
    ONDE Sesc Santana, av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. (11) 2971-8700
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre

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