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    Aos 67 anos de carreira, Ângela Maria lança 1º CD a sós com voz e violão

    CHICO FELITTI
    DE SÃO PAULO

    02/08/2015 02h45

    "Centésimo décimo sexto? Não, não, agora é mais. Com esse, são 118 discos", diz a mulher de cabelos esvoaçantes sentada no café da Sala São Paulo, enquanto faz as contas nos dedos devidamente manicurados. Ângela Maria é uma pessoa numérica: 86 são os anos de vida, 67 deles dedicados à música, e 60 são os minutos de atraso para a entrevista, tempo gasto entre o cabeleireiro e o trânsito.

    Mas sua carreira agora, garante, é regida pelo número um: o instrumento único que a acompanha em "Ângela à Vontade", álbum que lança em agosto e em que pela primeira vez gravou acompanhada somente por um violão, o de Ronaldo Rayol, 61.

    "Sempre fiz discos com grandes orquestras, sinfônicas, corais, convidados. Muita coisa. Foi a estreia da minha voz a sós com as cordas."

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Retrato da cantora Angela Maria no saguao da Sala São Paulo, na Luz
    Retrato da cantora Angela Maria no saguao da Sala São Paulo, na Luz

    Ângela, que preferia boleros e sambas-canção à bossa nova até então, diz ter encontrado no desafio, proposto por um produtor, um novo gosto: o minimalismo.

    "Eu quero cantar aquilo de que gosto. E é mais fácil fazer isso sozinha." Fácil, sim, mas com algum risco, como gravar canções inéditas em sua voz.

    É o caso de "Só Louco", de Dorival Caymmi, "uma letra que estava lá e eu não tinha tido coragem para mexer".

    DISCO EXPRESSO

    Além das novidades, o disco foi a chance de "mostrar a novas gerações aquilo que elas pre-ci-sam conhecer".

    Angela passeia pelas notas de "Amendoim Torradinho", eleita música do ano de 1955 na voz de Sylvinha Telles. E mostra ainda ter uma lágrima na voz em "Retalho de Cetim", de Benito di Paula

    O alcance vocal, que nas palavras de Elza Soares "chega a ser indecente", continua indefectível ao vivo. "Eu já conheço as músicas, é uma coisa de intuição." O disco saiu após três dias enfurnada em um estúdio na Pompeia.

    "Quer um disco? Gravo pra você agora. Gosto de fazer tudo rápido. Espera. Nem tudo! Depende...", e dá risada.

    Décadas atrás, conta, rescindiu o contrato com a gravadora Copacabana, para quem "devia" ainda três discos. "Em uma semana, gravei os três. Pá-pá-pá", sonoriza, batendo palmas.

    "Isso porque ela ainda inventou de gravar três músicas a mais", diz o produtor Thiago Marques Luiz. De dez canções, o repertório acabou com 13 –o número do azar. "Nada de má sorte. Treze, pra mim, é número de sorte!".

    Foi num dia 13, inclusive, que ela se casou com Daniel D'Ângelo, um ex-fã que foi seu noivo por décadas e agora finalmente ocupa o posto de marido. "Casamos faz um tempinho, sem essa coisa de festona. Não precisa", diz ela.

    UM CATATAU DE VIDA

    Nas próximas semanas, é capaz que a cantora dê a sorte de se encontrar estampando capas em livrarias.

    Está prevista para outubro sua biografia, um catatau de 800 páginas escrito pelo jornalista Rodrigo Faour, que já biografou Cauby Peixoto, 84, e Dolores Duran (1930-1959).

    "O livro nasceu como a pesquisa para um musical que queriam fazer sobre a Ângela", conta D'Ângelo.

    O espetáculo foi adiado, mas Faour decidiu ir adiante com o material e transformá-lo numa biografia, "mais ou menos autorizada".

    O marido lê trechos do manuscrito em voz alta e ela, que perdeu parte da visão do olho esquerdo para a diabetes, comenta. "Em alguns capítulos, como o dos casamentos [foram seis], ela diz: 'Preferia que essa parte não estivesse'."

    "Não é caso de censura", diz o autor, "mas, se ela estivesse desagradada com algo, não ajudaria na divulgação."

    Procurado para falar sobre o livro, o biógrafo disse não poder comentar ainda. "Ou a editora me mata!"

    As páginas devem abordar histórias que parecem inverossímeis, mas de fato aconteceram, como a origem do apelido Sapoti, cunhado por Getúlio Vargas. Ângela se apresentara numa festa na década de 1940 e, enquanto circulava pelo jardim, se deparou com o então presidente sentado em um banco. Vargas a cumprimentou e disse algo na linha de: "Você tem a voz doce e a cor do sapoti", diz a lembrança dela.

    BABALU

    Mas o momento de reflexão não quer dizer que Ângela Maria vá virar uma contemplativa. "Quero é gravar o meu segundo CD acústico", diz ela, que até cogita uma versão de "Babalu" à capela.

    Num show em Santos (SP) na semana passada, um fã de 11 anos desmaiou ao se deparar com a cantora. "Tenho fãs jovens. São mais de 7.000 no Facebook", ostenta ela, usando outra numeralha.

    A agenda de shows também é matemática: são 18 apresentações até outubro, numa turnê que cobre Norte e Nordeste. "Todo mundo parou. Eu não! Vou até... sei lá. Vou."

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