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    Após promessa, Tribunal de Justiça de SP desiste de reabrir o Teatro Hilton

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    07/08/2015 02h10

    Quando o grande nome da hotelaria internacional chegou ao nº 165 da avenida Ipiranga, no centro de São Paulo, em 1971, a ciumeira dos vizinhos foi tanta que Tom Zé compôs "A Briga do Edifício Itália e do Hotel Hilton".

    Hoje a peleja é outra e envolve o teatro no subsolo do prédio branco que Tom cantou ser "a Torre de Pisa vestida de noiva". Em 2004, o Hilton se mudou para o Morumbi, e três anos depois o Tribunal de Justiça de São Paulo alugou o edifício no centro.

    Na época, o TJ-SP afirmou que o estabelecimento de 390 lugares ficaria à disposição das secretarias estadual e municipal da Cultura. O órgão, contudo, declarou ter mudado de ideia após a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) paulista cobrar a reabertura do espaço, oito anos depois.

    Hoje suítes do antigo hotel viraram gabinetes de desembargadores, e o teatro faz as vezes de auditório, onde se realizam eventos como cursos de português e seminários do Judiciário.

    Em ofício, o presidente do tribunal, José Renato Nalini, elenca motivos contra a volta do Teatro Hilton –entre eles o "acréscimo de despesas com água, energia e limpeza".

    Grandes atores já passaram por aquele palco, como Maria Della Costa (1926-2015), com "Temos que Desfazer a Casa", e Lima Duarte, em "Bonifácio Bulhões". Em 1984, Vera Fischer e o então marido, Perry Salles (1939-2009), estrearam ali "Negócio de Estado". O espaço foi reformado para a montagem.

    mai.1984/Divulgação
    O diretor Flávio Rangel e os atores Vera Fischer e Perry Sales acompanham a reforma no Hilton para a estreia de 'Negócios de Estado', em 1984
    O diretor Flávio Rangel e os atores Vera Fischer e Perry Sales acompanham reforma no Hilton em 1984

    "Quando formos embora, a cidade ficará com mais um teatro bem equipado, e não só um centro de convenções", disse Salles à Folha na época.

    Para o presidente da Comissão de Direito às Artes da OAB-SP, Evaristo Azevedo, o lugar "está sendo usado contra sua própria vocação". Em abril, ele e o presidente da OAB, Marco da Costa, fizeram uma vistoria no local. "Faltariam detalhes como a pintura, para tirar aquele cheiro de sala mofada. Mas o teatro está quase impecável", afirma.

    Azevedo ressalta, ainda, que uma volta do teatro seria importante sobretudo diante da "perda de várias salas para a especulação imobiliária".

    A OAB sugeriu que a SP Escola de Teatro, ligada à Secretaria de Estado da Cultura, administre o local e também assuma sua curadoria (que privilegiaria a temática jurídica), explica Ivam Cabral, diretor-executivo da escola e um dos diretores da cia. Satyros. Embora receba espetáculos, a escola não tem coxia própria.

    "Nós não temos teatro, apenas salas. Seria lindo se pudéssemos aplicar nossas aulas num teatro como esse", diz Cabral. "É uma pena que permaneça fechado. É um teatro central e que teve uma história importante na cidade."

    CUSTOS

    Vários fatores impedem a reabertura do Teatro Hilton ao público, diz o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, em ofício de julho recebido na segunda (3) pela OAB-SP.

    Em 2007, quando o tribunal anunciou que alugaria o antigo Hotel Hilton, o então presidente da corte, Celso Limongi, foi entusiasta da proposta de reativar o teatro.

    Mas 2015 é outra história.

    As finanças foram o que mais pesou. O "atendimento às normas de acessibilidade" e a "obtenção de alvará de funcionamento específico para essa finalidade" implicariam "em custos".

    Despesas com água, energia e limpeza também teriam impacto. "Isso sem entrar na segurança dos gabinetes ali instalados", afirma o ofício.

    Para a OAB, seriam detalhes contornáveis. "Para fazer palestras, não precisa de alvará?", diz Evaristo Azevedo, da Comissão de Direito às Artes da ordem. O TJ não respondeu ao pedido de entrevista da Folha.

    Folhapress
    Vista aérea do hotel Hilton
    Vista aérea do hotel Hilton

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