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    Excesso reduz força de boas obras na mostra 'Africa Africans'

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    07/08/2015 02h42

    "Africa Africans", em cartaz no Museu Afro Brasil, é dessas mostras panorâmicas, bastante ousada, que busca dar conta da produção de todo um continente. Mas, por falha na edição, acaba enfraquecendo sua principal tese: a força da arte contemporânea na África.

    Com curadoria do diretor da instituição, Emanoel Araujo, a mostra reúne 21 artistas de oito países, com destaque para a produção do Benin –são nove artistas de lá. A maioria das obras possui um caráter artesanal, marcado ainda pela precariedade.

    Um bom exemplo dessa poética é "Skylines", imenso painel de tampas metálicas de bebida costuradas com fio de cobre de El Anatsui, ganhador do Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra na edição atual da Bienal de Veneza. Aqui, o descartável se transforma em objeto cintilante, transformando lixo em luxo.

    Reprodução
    O artista Hecton Sonon, do Benin, prepara obra no Museu Afro Brasil
    O artista Hecton Sonon, do Benin, prepara obra no Museu Afro Brasil

    Outro trabalho que impressiona pela contundência conquistada por meio de materiais simples é "Stupides et inutiles", de Aston. Nela, o artista do Benin constrói pequenos bonecos e os reúne obsessivamente –lembrando os trabalhos de Arthur Bispo do Rosário– para criar um mapa do genocídio africano.

    Mais sofisticado, mas ainda sem abandonar o teor artesanal, estão "The British Library" (biblioteca britânica) e "Egg Fight" (luta de ovo), duas instalações do nigeriano radicado em Londres Yinka Shonibare MBE. Em ambas, ele utiliza batiques holandeses criados para serem exportados para a África, abordando aqui os estereótipos.

    Enquanto a biblioteca tem 6.000 livros revestidos com esses tecidos, em "Egg Fight" são os personagens que duelam com roupas no estilo do século 19. Outro conjunto de obra de tirar o fôlego, também realizado de maneira simples, é feito por outro artista do Benin, Julien Sinzogan, em uma série de desenhos que trata da imigração de escravos africanos de forma surpreendentemente pop.

    Há outros trabalhos incríveis, mas o nível não se sustenta quando visto ao lado de alguns realmente discutíveis, como uma traquitana sem título de Edwige Aplogan.

    O Museu Afro Brasil tem desenvolvido um papel quase único em apresentar a produção africana de maneira contínua, além de apresentar a relevância da cultura afro no país. No segundo andar, isso é feito de forma cumulativa e se dá com sucesso.

    Em "Africa Africans" o excesso impediu a construção de diálogos mais intensos, reduzindo a contundência dos melhores trabalhos.

    AFRICA AFRICANS
    QUANDO: DE TERÇA A DOMINGO, DAS 10H ÀS 17H; ATÉ 30/8
    ONDE: MUSEU AFRO BRASIL, PQ. IBIRAPUERA, PORTÃO 10, TEL. (11) 3320-8900
    QUANTO: GRÁTIS
    CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

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