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    Sérgio Oksman bate bola com o pai em filme apresentado em Locarno

    LUCAS NEVES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOCARNO (SUÍÇA)

    12/08/2015 02h15

    O futebol é protagonista recorrente nos documentários do paulista Sérgio Oksman, 45, radicado há 18 anos na Espanha. Para a TV, ele já perfilou a ascensão de um craque ("Ronaldo: Manual de Voo"), destrinchou a mítica em torno de outro ("Pelé") e compilou as lembranças de ídolos em Portugal ("Benfica na Memória").

    Mas nunca escalara a si mesmo para uma "partida" cinematográfica. "O Futebol", apresentado no Festival de Locarno (Suíça), muda essa escrita. O documentário nasce de um pacto selado em 2013 entre o cineasta e seu pai, Simão, no momento em que se reencontram após um hiato de 20 anos: a dupla assistiria junta à Copa do Mundo do Brasil, e daí viria um longa-metragem.

    Divulgação
    'O Futebol', filme do brasileiro radicado na Espanha Sergio Oksman, que integra competição do festival de Locarno
    'O Futebol', filme do brasileiro radicado na Espanha Sergio Oksman, que integra competição do festival de Locarno

    "O filme surge do reencontro, mas não é sobre ele. Não queria fazer algo terapêutico. A minha história não é importante", diz Oksman. "Buscava falar sobre o tédio, sobre 'perder tempo' com alguém, aquilo que fazem pais e filhos e que eu nunca tinha tido. E o futebol vem preencher o grande silêncio entre os homens, é uma muleta."

    Mas o "esquema tático" teve de ser revisto antes mesmo da entrada em campo. Simão elencava de cabeça o escrete canarinho de 1954 e jurava lembrar o nome do árbitro da final da Copa do 4º Centenário de São Paulo (contribuindo para delinear "um filme de fantasmas", segundo o diretor). Só não queria saber do presente, dos alugueis atrasados e de Neymar e cia: "A Copa não paga minhas contas".

    "A ideia era passar um tempo com ele, escrever diálogos a partir disso e voltar para gravá-los. O plano foi para o espaço quando percebi que ele não iria sentar para ver os jogos. Tudo seria menos controlado do que eu tinha imaginado", afirma o diretor.

    Ainda assim, Oksman usa toda sorte de expediente para tirar o pai da zona de conforto: alude ao casamento deste (ao lhe mostrar um vídeo do matrimônio), à saída de Simão do lar da família (pergunta-lhe se tem lembranças daquele dia)... habilidoso, o jogador sênior "finta" as arapucas uma a uma.

    Pode ser fácil driblar a "retranca" antiamenidades que o filho tenta impor, mas o puro e simples acaso se mostrará adversário mais tinhoso. Em 29/6, dia do jogo Holanda x México (o calendário da Copa ritma as cenas), Simão é internado com insuficiência respiratória. Dois dias depois da ruína brasileira frente à Alemanha (8/7), ele deixa de vez o campo.

    "Tentamos dissociar as coisas: o drama do Brasil não explica o do meu pai", afirma o cineasta. "Mas, no futebol como no filme, as regras valem até o fim: se o pacto é rodar durante toda a Copa, ele tem de seguir." Severamente desfalcado, "O Futebol" esbanja "fair-play": só para quando o jogo termina.

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