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    Lucrecia Martel troca drama intimista por produção épica em 'Zama'

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    16/08/2015 02h26

    A diretora argentina Lucrecia Martel é conhecida pelos dramas que irrompem das claustrofóbicas quatro paredes da classe média. Com "Zama", seu quarto longa de ficção, ela se lança numa empreitada épica, oposta ao intimismo dos filmes anteriores.

    Saem as agruras de famílias em colapso e de mulheres atormentadas, entram as de homens brutos, que cavalgam por campos encharcados.

    Também é oposta a origem do novo filme: se nas demais obras a cineasta trabalhou com roteiros originais, agora adapta as páginas de romance homônimo publicado em 1956 pelo autor argentino Antonio Di Benedetto (1922-1986).

    "Zama" deve chegar aos cinemas em 2016. O último longa de ficção de Lucrecia, o drama psicológico "A Mulher Sem Cabeça", saiu em 2008.

    "A demora é um bom funil para as ideias. Ela não impede um equívoco, mas dá mais tempo para acertar", diz Lucrecia por e-mail à Folha, dias após encerrar as filmagens de "Zama" no nordeste da Argentina. "Há algumas etapas verdadeiramente encantadoras na produção de um filme, como a que antecede a escrita do roteiro. Tendo a entregar-me a isso sem pressa alguma."

    Ambientado no século 18, o filme narra a história de Dom Diego, funcionário burocrático da Coroa espanhola confinado num povoado remoto da colônia que passa os dias à espera de uma transferência para Buenos Aires. Até que, como se atendendo a um chamado por viver intensamente, resolve partir com um bando em busca de um fora da lei.

    O ator espanhol Daniel Giménez Cacho, coadjuvante em filmes como "E Sua Mãe Também" (2001) e "Má Educação" (2004), faz o protagonista. O paulistano Matheus Nachtergaele é o antagonista da obra.

    "É a história de um homem preso na crença que tem de si mesmo e da dificuldade de abandonar aquilo que cremos que somos", afirma a diretora. "Todos podemos nos reconhecer nisso. Eu me reconheço em todas as idiotices humanas. E a necessidade de ser alguém é uma delas."

    BRASIL E ALMODÓVAR

    "Zama" é a primeira coprodução internacional de Lucrecia. No braço espanhol, a produtora de Pedro Almodóvar, que já investiu em dois filmes da argentina e que "nem antes nem depois tenta intervir no aspecto narrativo", diz ela.

    Já no braço brasileiro há a Bananeira Filmes, de "O Palhaço" e "Feliz Natal", união sul-americana que Lucrecia descreve como "genuína".

    "Ainda estamos vivendo o começo das coproduções entre os países latino-americanos", afirma. "Há muito o que aperfeiçoar nelas, e isso não vai acontecer enquanto não houver motivos orgânicos pelos quais elas se realizam."

    Apontada como expoente do novo cinema argentino, ela vê com ressalvas a produção de seu país natal. "Ficaria mais tranquila se o Instituto Nacional de Cinema e Artes Visuais [que fomenta a atividade naquele país] se preocupasse mais com o nível do que com a quantidade dos filmes", afirma, sem citar exemplos.

    Lucrecia também diz desconhecer comparações entre o cinema brasileiro e o argentino: "Só conheço essa rivalidade no futebol. E nele fomos ambos esmagados pela Alemanha".

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