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    Criador de 'The Wire' volta à TV com trama sobre racismo em NY

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    19/08/2015 02h26

    O roteirista David Simon dissecou o tráfico de drogas na aclamada série "The Wire" (2002-2008). Retratou a cobertura de um jornalista durante a invasão ao Iraque no premiado "Generation Kill" (2008). E dramatizou a reconstrução de Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina nas quatro temporadas de "Treme" (2010-2013).

    Mas a missão de Simon é bem mais complicada em "Show Me a Hero", minissérie da HBO, em seis partes, exibida aos domingos –o canal reprisa a estreia na quarta (19).

    "É difícil pedir para as pessoas se engajarem numa trama de seis horas. Mas, se fizerem isso e discutirem o tema, meu trabalho terá sido cumprido", diz Simon à Folha.

    Paul Schiraldi/Divulgação
    Os atores Oscar Isaac e Carla Quevedo como os personagens Nick e Nay Noe na série 'Show Me a Hero', da HBO
    Os atores Oscar Isaac e Carla Quevedo como os personagens Nick e Nay Noe na série 'Show Me a Hero', da HBO

    A atração é baseada no livro homônimo de Lisa Belkin, ex-jornalista do "The New York Times", sobre a resistência da população de Yonkers, no Estado de Nova York, contra a criação de um conjunto habitacional no lado rico da cidade, onde vivem muitos ítalo-americanos. Os moradores acreditam que o tráfico de drogas e a violência acompanharão a chegada de negros e hispânicos pobres à região.

    A minissérie foca a luta trágica de Nick Wasicsko (Oscar Isaac), prefeito de Yonkers, para fazer valer a resolução de um juiz federal que ordenou a criação de conjuntos habitacionais e moradias baratas no lado leste da cidade.

    Do fim da década de 1980 ao início dos 1990, o político –que não fazia ideia da encrenca em que estava se metendo– tentou angariar votos entre o conselho municipal e convencer a população que o elegeu da importância de diversificar a comunidade.

    Não é um tema de fácil digestão, retratado em dezenas de votações burocráticas, conversas de escritório e discussões políticas em jantares.

    "Você não ouve ninguém na indústria cinematográfica falando em fazer um filme sobre racismo e moradia pública. É preciso muita coragem", diz Paul Haggis, ganhador do Oscar por "Crash", em 2006. Ele dirige todos os seis capítulos.

    A HBO comprou os direitos do livro antes mesmo de "The Wire" entrar no ar e renovou o contrato anos depois, a pedido de Simon. "Sabia que a história iria se manter relevante, porque a situação racial nos EUA não iria mudar radicalmente nesses anos", conta o roteirista. "O que está acontecendo em Lafayette ou Charleston é uma reação à divisão do poder na América. Por baixo de tudo, há uma raiva dos brancos ao notar 'que não é mais meu país'."

    Simon elenca como "uma das razões dessa derrota" a formação de "uma classe média de negros, latinos e asiáticos. A eleição de Obama mostra como estamos mais saudáveis".

    Mesmo com pessoas como Donald Trump, para quem latinos são "estupradores"? "Aquilo é tudo teatrinho", diz Simon, que é branco. "Lentamente, as portas no país estão se abrindo. Brancos serão minoria em breve, e isso é ótimo."

    SHOW ME A HERO
    Exibição da minissérie
    QUANDO: DOM., ÀS 22H, NA HBO; REPRISE NA QUA., ÀS 20H

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