Um bebê ainda sujo de sangue, bem no momento em que é puxado pela cabeça para fora da barriga da mãe, vai dominar em breve a paisagem do Flamengo, na zona sul do Rio. A imagem de dez metros de altura, uma fotografia da artista Maria Lynch na hora em que nasceu, estará estampada a partir de semana que vem na fachada do centro cultural Oi Futuro.

Num contraste gritante entre escalas, a intimidade de um parto será então escancarada para toda a cidade, tal qual um outdoor. Lynch reconhece a ironia em usar uma estratégia publicitária para não vender nada. "Essa ambiguidade me interessa numa grande escala de provocação", diz a artista. "Em vez de vender um produto, esse é um espaço sem lógica. Quero provocar a dúvida sobre quem é essa pessoa que ainda não é nada e o resto é construção."

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	Fotografia de Maria Lynch que será exposta na fachada do Oi Futuro, no Rio

No caso, Lynch também evoca nesse trabalho a ideia de construção de um artista. Numa sabotagem do que poderia ser um ato ególatra, ela se exibe irreconhecível, ainda um bebê todo contorcido, para a multidão que passa pela praia do Flamengo ou anda pela rua Dois de Dezembro. "Por ser o meu parto, falo de uma subjetividade", observa. "É um comentário entre identidade e um certo início, o ponto em que tudo começa."

Lynch, que nasceu no Rio, conta que viu pela primeira vez essa fotografia tirada pelo pai quando já era adolescente. Quis roubar a imagem e um ano atrás acabou escaneando para desenvolver um trabalho. "Nunca tinha mostrado isso em nenhum formato", diz a artista. "Agora vai ser interessante ver a reação das pessoas. É engraçado estar de alguma maneira na sua própria paisagem."

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	Fotomontagem com fotografia de Maria Lynch na fachada do Oi Futuro, no Rio