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    Romance 'Nathaniel P.' enquadra homem que foge de relacionamento

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    22/08/2015 02h50

    Nathaniel P. é um cara que pode soar bem familiar nestes tempos de amores fugazes: é aquele que conhece uma garota e se encanta, mas, quando as coisas ficam sérias demais, se assusta e desaparece sem explicações.

    Nate é só um personagem de ficção, mas acabou virando adjetivo usado por jovens americanas para definir esse tipo de homem após "Os Casos de Amor de Nathaniel P.", da estreante Adelle Waldman, chegar às livrarias dos EUA em 2013.

    O título, que acaba de ganhar versão brasileira pela Casa da Palavra, acabou eleito um dos melhores daquele ano pela revista "The New Yorker".

    Melanie Burford/Washington Post
    Brooklyn, NY - July 31, 2013 : Author Adelle Waldman may be this generation's Jane Austen with her debut novel, "The Love Affairs of Nathaniel P." photographed in Brooklyn, NY on July 31, 2013. Adelle Waldman writes about the mating moves of today's aristocrats, the young literary elite of Brooklyn, NY. (Photo by Melanie Burford/Prime for The Washington Post via Getty Images) ORG XMIT: 68.8.886099976 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Adelle Waldman, considerada a 'Jane Austen de sua geração' pelo jornal 'The Washington Post'

    Pouco depois, um artigo do jornal "The Observer" ("Por que Estamos Todos Falando sobre Nathaniel P.?") analisava o esforço da agente de Adelle em fazer o livro emplacar e citava garotas que passaram a usar o nome do personagem para falar dos homens com quem se relacionavam ("é um total Nathaniel P.").

    Um total Nathaniel P. é um cara chegando aos 30 anos, "com a carreira finalmente decolando", "produto de uma infância pós-feminista", disseca o narrador do romance, em discurso indireto livre.

    No fundo, Nate é um cara inseguro, que parece enxergar as namoradas não como companheiras, mas como degraus de sua ascensão social e profissional.

    Cada conquista (da colega meio tímida de colégio a uma jornalista sofisticada) prova que ele está "chegando lá".

    O curioso é que seja uma mulher a entrar na mente do tipo e colocá-lo debaixo de uma lupa. E que, segundo a própria Adelle, parece ter acertado. "Recebi uma tonelada de cartas de homens dizendo que se veem como ele e não se orgulham disso", afirma ela à Folha, por telefone.

    As mulheres, por sua vez, tendem a enviar-lhe relatos pessoais, associando o personagem a seus ex-namorados.

    Adelle atribui ao tema do romance o potencial de identificação com a sua obra, apesar de os personagens integrarem o meio literário do Brooklyn. "Era só um jeito de tornar a coisa mais fácil para mim, escrever sobre um cantor de ópera exigiria muito mais pesquisa", afirma.

    "Relacionamentos são uma parte tão grande da nossa vida dos 18 anos até seja lá que idade", diz a autora. "É triste como a literatura contemporânea não leva isso muito a sério, como Jane Austen e Tolstói fizeram."

    Ela conta que quis "escrever um livro sério", discutindo a moral contemporânea com diálogos em que os personagens deixassem entrever as questões psicológicas envolvidas em uma relação amorosa (ou em ser capaz de se importar com o outro).

    "Namorar é uma luta tão grande, mas costuma ser tratado só como comédia romântica ou ficção escapista", diz Adelle, que agora escreve sobre casamentos e acaba de vender os direitos do romance para uma série de TV.

    OS CASOS DE AMOR DE NATHANIEL P.
    AUTORA Adelle Waldman
    TRADUÇÃO Marcia Blasques
    EDITORA Casa da Palavra
    QUANTO R$ 39,90 (256 págs.)

    POR DENTRO DA MENTE DE NATE - Leia trechos do romance

    "Em fevereiro, o livro dele foi publicado. Embora Nate tivesse nutrido em segredo fantasias de estar solteiro quando isso acontecesse, acabou sendo melhor ter uma namorada. (...) Sentia-se deslocado quando não conseguia ou quando não estava entusiasmado o suficiente na conversa. (...) Muitas vezes se sentia envergonhado ou ridículo, e estava feliz em ter alguém para quem telefonar depois ou, melhor ainda, alguém com quem deitar abraçado (...)"

    "Entre os dois, ele sempre desempenhara o papel do escritor mais bem-sucedido. Fora ele quem elogiara o trabalho dela, que a incentivara. Se os papéis se invertessem, ainda que temporariamente, isso só aumentaria seu sentimento de indignidade (...)"

    "Nate sentiu uma pontada de apreço por Hannah. sabia que se fosse solteiro, se estivesse jantando sozinho com Mark e a namorada dele, teria ficado um pouco deprimido. (...) Estava feliz por ter alguém tão sensata, tão não ridícula, alguém de quem gostava tanto quanto desejava (...)"

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