Celebrar a decadência para demonstrar a insatisfação com o sistema vigente seria, de acordo com o birô de tendências britânico WGSN, o motivo pelo qual os jovens aderiram à "estética bagaceira" em seus armários.

Segundo a especialista em tendências Beatriz Modolin, ao se inspirar em décadas nas quais a vida era "aparentemente mais fácil e livre", como as de 1980 e 1990, os jovens reciclam elementos e valores da moda do passado.

"Era um tempo em que não existia tanta tecnologia, havia mais proximidade entre as pessoas e tudo era usado como forma de expressão, não de adequação aos padrões", diz Modolin.

Nomes como a popstar americana Miley Cyrus, a atriz e modelo inglesa Cara Delevingne e o ator americano James Franco seriam porta-vozes desse estilo sujo, algo trash e de apelo cult.

"Quando a moda se torna mais tolerante, há um certo crivo fashion para a adesão dessa estética, potencializada por essas figuras que falam diretamente aos jovens."

Ela compara esse fenômeno ao interesse da elite brasileira pelo estilo das classes menos abastadas do país.

Se antes a silhueta ajustada, colorida e "não sofisticada" da periferia era rechaçada por ricos, que poderiam pagar por um estilo mais sóbrio e considerado de "bom-gosto" pelo mundinho fashion, hoje os funkeiros Anitta e Naldo, por exemplo, influenciam o look de endinheirados.

"O sucesso do [programa da TV Globo] 'Esquenta', da Regina Casé, é um exemplo de como a elite absorve sem esforço o estilo da classe C", diz a especialista. Casé costuma colocar no palco do seu programa dançarinos, músicos e celebridades da internet oriundos da periferia.

Essa mistura de estilos entrou na pauta das grifes brasileiras. A Morena Rosa, em sua campanha publicitária de verão 2016, juntou a funkeira Valesca Popozuda, a modelo Isabeli Fontana e a empresária Costanza Pascolato, tida como uma das mulheres mais elegantes do país.