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    CRÍTICA

    'Narcos' costura ação e política em ótimo retrato das Américas

    LUCIANA COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    28/08/2015 02h15

    "Narcos", que o Netflix estreia nesta sexta (28), foi produzida na Colômbia com dinheiro dos Estados Unidos e um elenco multinacional para conquistar um público global, tal qual o produto de que trata: a cocaína que correu fartamente pelo continente nos anos 80 e 90.

    O resultado é gradativamente viciante não só para quem aprecia séries de ação, mas sobretudo para os que se interessam pela surrealista política regional nas Américas e história de forma geral.

    Em dez episódios, o diretor brasileiro José Padilha ("Ônibus 174", "Tropa de Elite") narra a ascensão novelesca de Pablo Escobar, o chefe do cartel de Medellín, aqui interpretado magistralmente por Wagner Moura.

    Daniel Daza/Netflix
    Wagner Moura as Pablo Escobar in the Netflix Original Series NARCOS. Photo credit: Daniel Daza/Netflix. Da série "Narcos" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Wagner Moura é o popular e bem-sucedido narcotraficante Pablo Escobar (1949-93) em 'Narcos'

    Nenhum criminoso da região inspirou a indústria cultural como Escobar (1949-1993), carismático, poderoso, sanguinário, engenhoso, rico e, por duas décadas, irrefreável até para a DEA, a agência antidrogas dos EUA.

    Há tours temáticos com seu nome, e logo Tom Cruise somará seu poder à pilha de filmes, séries e livros sobre o chefão com "Mena", que trata de um piloto do traficante.

    "Narcos" sobressai do bolo pela obstinação quase jornalística e pela aposta no que virou traço central da ficção atual: o carisma do anti-herói, sem intenção de redimi-lo nem reduzir seus crimes.

    DIMENSÕES HUMANAS

    Ao deixar seu protagonista se comover com um cão ao mesmo tempo em que manda matar inimigos com a casualidade de quem pede uma movimentação bancária, ao mostrá-lo dando dinheiro aos pobres e cooptando homens públicos, guerrilheiros e outros chefões com o mesmo truque, Padilha não matiza o legado de Escobar. Ele expõe sua extensão total.

    Assim, constrói-se um retrato do crime organizado e da política na região com um resultado quase tão excelente quanto o obtido por Gabriel García Márquez no livro "Notícia de um Sequestro" (1996).

    Não menos importante, "Narcos" questiona a política dos EUA para o narcotráfico, corresponsável pela dimensão que a violência e o poder dos traficantes tomou.

    Em um truque inteligente, adota o ponto de vista de um agente americano e uma edição esperta com imagens de arquivo de discursos dos ex-presidentes americanos Ronald Reagan (1981-89) e George Bush (1989-93).

    O único ponto fraco é a escolha de Boyd Holbrook para interpretar o agente americano que conduz narrativa.

    Tolerável. Moura, o chileno Pedro Pascal (o Oberyn de "Game of Thrones"), o portorriquenho Luiz Guzmán (que faz 90% dos bandidos mexicanos em filmes holywoodianos) e notadamemte o mexicano Raúl Mendez (de "Sense8", como o presidente César Gaviria) estão soberbos.

    NARCOS
    QUANDO: A PARTIR DESTA SEXTA (28) NO SERVIÇO DE STREAMING NETFLIX

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