A guerra entre Uber e táxis seria um tanto mais desigual se João da Cruz Forte de fato existisse. O personagem principal de "Santo Forte" é um taxista que tem o corpo fechado: pode levar tiros sem eles vararem a pele e ainda consegue saber segredos da vida das pessoas ao tocar o dinheiro com que pagam a corrida.
Mas, como é honesto, Cruz Forte usa seu dom para ajudar seus passageiros na primeira série nacional original do canal AXN, que estreia no domingo (30), às 21h.
O projeto nasceu mais de dez anos atrás, quando o roteirista americano Marc Bechar decidiu usar sua experiência com táxis no país ("Era onde eu treinava meu português") na ficção.
No piloto original, João era um taxista que rodava à noite pela orla de Copacabana.
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O taxista João, à esq., e seu pai de santo e dono de boteco, Celso |
As premonições dele vêm do contato com o dinheiro com que clientes pagam. As notas são então entregues para um pai de santo meio aposentado que dá diretrizes para o herói –e embolsa a grana.
Quando o AXN decidiu estrear produções originais, anos depois, a produtora Moonshot Pictures, onde Bechar trabalha com o diretor Roberto D'Avila, recebeu uma ligação. Mas o bairro "encaretou" muito nos últimos tempos, afirma o diretor.
Portanto, decidiu-se focar em um Rio mais longe do mar. A geografia carioca da tela passa longe das praias da zona sul. As locações usadas ficavam em bairros como Rio Comprido, Santa Teresa, Tijuca, Lapa e Catumbi.
Nada foi filmado em estúdio. "Foi um desafio, mas as recompensas estavam lá", diz D'Avila. As cores abundam nas casas de paredes carcomidas, como a do vilão agiota que oferece cachaça a todo mundo, durante a trama.
ELENCO DE TODAS AS FÉS
A 30 dias de começar a filmar, haviam testado 40 atores para o papel principal.
Foi quando chegou Vinícius de Oliveira, que em 1997 interpretou o menino de "Central do Brasil". "O personagem não é um herói nem um vilão. Por isso ele me atraiu muito logo de início."
Já Celso, um personal pai de santo, que não atende outros fiéis a não ser o taxista, foi designado a Thiago Justino, 55, um budista que morou em Portugal por anos.
"Houve um 'coaching' [treinamento] e visitas a mães de santo para as cenas de incorporação", diz o diretor.
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Cena do seriado 'Santo Forte' |
O protagonista já tinha experiência de outras religiões afro-brasileiras. "Eu frequento o candomblé, então fiz questão de ir a uma mãe de santo para pedir licença para mexer com os assuntos com que a gente mexia."
A ideia da série, segundo seu criador, era não aderir a nenhuma religião existente, mas não ofender nenhuma.
Mais ou menos como funciona na casa do chofer de praça. Sua mulher, Dalva, é vendedora de cosméticos e de shakes naturebas que às vezes frequenta uma igreja evangélica, onde o irmão é pastor. "Os dois não sincretizam em casa mas também não rivalizam", diz Leila Garin, 37, que interpreta Dalva.