• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 00:45:45 -03

    'O cinema atual não é independente', diz ex-curador do Festival de NY

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    30/08/2015 02h25

    Para Richard Peña, 62, professor da Universidade de Columbia e ex-curador do Festival de Cinema de Nova York, o cinema independente americano praticamente acabou.

    Peña é um espectador compulsivo –diz ter visto, no auge da carreira, quase sete filmes por dia, ainda que não assistisse a todos até o fim.

    No Brasil para fazer palestras no Rio Grande do Sul, no Rio e em São Paulo, o professor de cinema de Columbia conversou com a Folha.

    Ele, que também foi diretor de programação do Lincoln Center (importante cinema alternativo de NY), parece se irritar com quem confunde filmes feitos fora dos grandes estúdios com "independência".

    No Oscar de 2015, muito se falou do sucesso dos independentes. Das oito produções indicadas na categoria de melhor filme, apenas uma, "Sniper Americano", de Clint Eastwood, foi bancada por um grande estúdio.

    Noam Galai/WireImage
    NEW YORK, NY - SEPTEMBER 28: Richard Pena attends the French Cinema Celebration during the 52nd New York Film Festival on September 28, 2014 in New York City. (Photo by Noam Galai/WireImage) ORG XMIT: 515248759 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O americano Richard Peña afirma que os filmes de baixo orçamento 'têm todos a mesma estética'

    Mas, para Peña, filmes como "Whiplash", de Damien Chazelle, não são, exatamente, independentes. "O que existe é o filme de baixo orçamento, mas não é independente em termos de estética e política, é um vestibular para as pessoas entrarem em Hollywood", afirma.

    "O cinema afro-americano dos anos 1930 e 1940 era independente. Mas o que passa em Sundance [festival americano] não é. São pessoas conhecidas, narração clássica".

    Até o cinema "dependente", feito nos grandes estúdios de Hollywood, está com os dias contados, diz. "Antigamente faziam 50 filmes por ano. Hoje são, quatro, cinco. Qualquer um pode se chamar de independente porque não tem uma estrutura com a qual precisa romper."

    O futuro do cinema americano, afirma ele, será dividido entre o "cinema espetáculo" e o "cinema de museu", este sim experimental.

    "Nos próximos dez anos, muitos cinemas vão fechar. Sobreviverão os que têm programas alternativos, mas também vamos ver o desenvolvimento de cinema de realidade virtual. As lutas de 'Os Vingadores' acontecerão não só na tela, mas do seu lado."

    Para ele, o que sai dos estúdios é cada vez mais ligado a efeitos especiais. "É uma experiência física do cinema."

    Já os filmes de narrativa, convencionais, irão para a televisão e para a internet.

    BRASIL PERDEU O BONDE

    Como curador do Festival de Cinema de NY, uma vitrine nos EUA para produções estrangeiras, viu a sorte de filmes latino-americanos mudar ao longo dos anos, mas a dos brasileiros nem tanto.

    Para ele, o Brasil perdeu o bonde do renascimento do cinema latino-americano. Cita como exemplo filmes mexicanos como "Amores Brutos" (2000) e "E Sua Mãe Também" (2001). "Eram muito frescos, você via uma coisa nova. O Brasil teve pouco disso."

    Filmes brasileiros emblemáticos, como "Cidade de Deus" (2002) e "Tropa de Elite" (2007), ele diz, podem até ser bem-feitos, mas não trazem nada de novo do ponto de vista narrativo ou estético.

    O cinema brasileiro, afirma, só começa a dar sinais de vida agora, com filmes como "O Som Ao Redor" (2013), "Casa Grande" (2014) e "Que Horas Ela Volta?" (2015).

    "A confrontação de classes parece ser um tema, e espero que disso saia outro cinema."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024