"Pedaço duma Asa", de Mariana Aydar, é um disco inclassificável, no bom sentido. Na verdade, num ótimo sentido. As canções feitas em parceria pelos artistas plásticos Nuno Ramos e Clima podem ser, em sua origem, sambas. Mas o que se escuta na voz da cantora passou muito além disso.
Ramos se envolveu com canção na convivência com o músico Romulo Fróes, seu assistente por 16 anos.
Mariana conheceu Ramos e foi cantar em instalações montadas por ele.
Depois de umas faixas nos discos anteriores de Mariana, canções de Ramos (e Clima) dominam o novo álbum.
"Conheci o Nuno e o Clima pelo Romulo. Comecei a gravar o Nuno no meu disco 'Peixes Pássaros Pessoas' (2009). E várias outras eu sempre tive vontade de gravar. Quando veio o convite do projeto 'Palavras Cruzadas', ele e o Clima se reuniram e me passaram um lote de inéditas. Quatro entraram no disco", diz a cantora.
Mariana foi convidada para montar um show no projeto "Palavras Cruzadas", no Oi Futuro (Rio), e poderia indicar um artista para participar com ela. O nome de Ramos veio na hora.
Ele e Clima se reuniram por uns dez dias para compor mais um lote de canções. Ramos criou dois cenários. Um mais simples –"com dois homens-estátua em cima de atabaques, a Mari quer viajar em turnê com esse", diz Nuno. O outro tem dezenas de girassóis. "Lindo, mas como viajar com isso?", pergunta Mariana.
"Pedaço duma Asa" tem produção de Duani, marido de Mariana, e uma participação fundamental do guitarrista Guilherme Held. É ele que faz a "liga" entre as canções e dá a elas a estranheza esperta que norteia o disco.
Clima e Ramos explicam a parceria como associação de sons e palavras. "O Clima escuta algo de que ele gosta, tipo Miles Davis, e vai solando em cima, até achar uma linha boa para uma canção", explica Ramos, que brinca: "Nosso próximo disco vai ser em cima de músicas que ele detesta. Xuxa, essas coisas...".