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    CRÍTICA

    TV paga terá Woody Allen e um dos últimos filmes de Carvana

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    31/08/2015 02h15

    SEGUNDA-FEIRA (31)

    Não deve ser tão difícil montar uma programação estimulante. O canal Futura mostra regularmente filmes que não passam em outros canais. O mesmo faz agora a TV Brasil, que dá sequência ao ciclo sobre a Segunda Guerra.

    Hoje será exibido o documentário alemão "As Obras de Arte Roubadas por Hitler" (2013, 12 anos, 23h), que de certa forma completa o ficcional americano "Caçadores de Obras-Primas" (2014, 12 anos), que o Telecine Touch reprisa nesta quarta-feira (2), às 22h.

    Divulgação
    Cena do filme Jersey Boys, estreia nesta quinta-feira, 26, de Clint Eastwood Crédito: Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de 'Jersey Boys', de Clint Eastwood

    É dos lados da HBO que vêm os filmes mais interessantes: "Jersey Boys" (2014, 12 anos, HBO2, 22h) faz parte da saga musical de Clint Eastwood (e foi um fracasso para os padrões do diretor).

    Também entre os melhores cineastas norte-americanos está Brian de Palma, que em "Paixão" (2012, 12 anos, HBO Plus) trata de paixões e rivalidades. O filme, com Rachel McAdams, será exibido nesta sexta (4), às 22h.

    TERÇA-FEIRA (1º)

    Jia Zhang-ke já disse que é um cineasta das pessoas sem poder na China. Ou seja, os que tentam circular de uma província a outra, ou que lutam com a exploração no trabalho –para resumir, os que lidam com essa mistura de capitalismo selvagem e despotismo maoista do país. É disso que tratam as histórias de "Um Toque de Pecado" (2013, Max, 19h20).

    Outro valor seguro do dia é "Magia ao Luar" (TC Pipoca, 18h25). Woody Allen está, aqui, no seu registro original: o do humor. Nele, o cineasta pode afirmar certas crenças suas e desdizê-las, tecer uma visão do mundo e rir de si mesmo: a flexibilidade é bem maior que nos filmes "sérios" de Woody.

    Para comprovar que não é dinheiro, mas imaginação o que falta à TV paga, basta seguir a belíssima mostra de Manoel de Oliveira no Canal Brasil, agora às terças. Hoje é dia de "Palavra e Utopia" (2000, 0h45), sobre o padre Vieira, traço de união entre Brasil e Portugal.

    QUARTA-FEIRA (2)

    Talvez a cena que melhor resume "Esperança e Glória" (1987, HBO Family, 0h45) seja a do menino, feliz, gritando "Obrigado, Adolf", quando as aulas na escola são suspensa por causa de um ataque aéreo nazista a Londres.

    Não por acaso John Boorman, o diretor do filme, a retomou no seu recente "Rainha e País", onde reencontraremos o mesmo menino, agora transformado em soldado.

    Em "Esperança e Glória" a guerra é observada, basicamente, a partir da perspectiva infantil. Mas a irreverência da observação do menino naquele momento dá bem uma ideia do ânimo antibélico de Boorman.

    No momento mais glorioso da Inglaterra moderna, da resistência heroica ao nazismo, Boorman se esquiva de exaltar o patriotismo, a casa de Windsor e tudo mais. Com humor e humanidade se coloca bem distante do cinema britânico habitual, quer dizer, chapa-branca. Continua um filme jovem e belo.

    QUINTA-FEIRA (3)

    "Brasília 18%" (2006, HBO Plus, 17h20) é um título bem ambíguo, pois sua referência primeira diz respeito à secura do ar na capital federal. A segunda, porém, é a marca mais gritante da cidade, e os 18% já dizem respeito a propinas.

    O filme (o último ficcional dirigido por Nelson Pereira dos Santos) pode não ser poderoso como "Vidas Secas" ou outras obras capitais do grande cineasta, mas não perdeu atualidade.

    O mesmo se pode dizer de "Arquitetura da Destruição" (1989, TV Brasil, 23h), original ensaio de Peter Cohen sobre a natureza do nazismo. Em vez de se referir à violência, ao racismo etc., o filme caracteriza o nazismo pelo desejo de criar saúde e beleza.

    Daí haver duas categorias essenciais ao regime: médicos e arquitetos (estes, comandando a ala dos estetas). Como tão sublimes aspirações podem ter produzido o horror que produziram –eis o ponto deste filme notável.

    SEXTA-FEIRA (7)

    O que marca o dia mais intensamente é a proximidade de dois títulos. O primeiro é "Tudo Pode Dar Certo" (2009, TC Cult, 12h25), em que uma garota bela e caipira cruza a vida de um professor novaiorquino ultrapessimista.

    Divulgação
    ORG XMIT: 594401_0.tif Cinema: os atores Evan Rachel Wood e Larry David em cena do filme "Tudo Pode Dar Certo", de Wood Allen. (Foto: Divulgação)
    Evan Rachel Wood e Larry David no filme 'Tudo Pode Dar Certo', de Woody Allen

    O segundo, "Não se Preocupe... Nada Vai Dar Certo" (2011, Max Prime, 18h20) trata de um vigarista (Tarcísio Meira) e seu filho (Gregório Duvivier), metidos em mil e uma encrencas (mas também mil e uma aventuras).

    O primeiro desenvolve um dos temas favoritos de Woody Allen: o acaso. O resultado de tudo o que façamos, certo ou errado, independe de nós. A sorte é tudo.

    O segundo entra na conta do saudável anarquismo de Hugo Carvana (este foi seu penúltimo filme). Carvana foi um diretor irregular, capaz do melhor ou do pior. Aqui é do melhor que se trata.

    Para a garotada: "Miss Potter" (2006, TC Touch, 12h05), história da escritora que deu nome a Harry Potter.

    SÁBADO (8)

    Outra vez temos dois títulos muito próximos, e até um pouco mais que isso: "Stalingrado" (2013, Max Prime, 21h20), de Fedor Bondarchuk, traz uma visão russa (não sovitética) da decisiva batalha envolvendo as tropas alemãs e as forças soviéticas.

    "Stalingrado, a Batalha Final" (1993, TV Brasil, 23h10), ao contrário, nos traz a visão alemã (mas não nazista) desse acontecimento.

    Foi este, em vários sentidos, o ponto de virada da Segunda Guerra: a dizimação do poderoso exército alemão devido à resistência tenaz dos russos e à chegado inverno implacável foi um aspecto determinante de tudo que viria a seguir.

    Mais suave, mas não tanto, em "Os Desafinados" (2008, Canal Brasil, 22h) Walter Lima Jr. aborda a trajetória de um grupo musical num momento de ditadura (no Brasil e na Argentina, ao mesmo tempo).

    DOMINGO (9)

    Anna Muylaert, agora em evidência com seu "Que Horas Ela Volta?" (nos cinemas) estreou no cinema com um momento de radical minimalismo, em "Durval Discos" (2002, Canal Brasil, 19h20).

    É difícil falar de uma "história" no caso, mas temos ali um sujeito deslocado (dono de uma loja de discos em plena era do CD) que vive com a mãe e contrata uma estranha empregada para ajudar a senhora nas tarefas domésticas.

    Entre um diálogo insignificante e outro, Muylaert constrói um filme moderno e cheio de beleza, em que a beleza das coisas deslocadas se encontra com o transitório das coisas.

    Mais que isso, ali estão vários temas que até hoje se encontram no trabalho da diretora paulista: a casa, o morto-vivo, o abandono.

    Para quem prefere um programa mais direto, "Missão: Impossível" (1996, TC Action, 13h55) é um Brian de Palma de encomenda, mas, ainda assim, um Brian de Palma (com Tom Cruise ator e produtor).

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