• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 18:57:19 -03

    Meredith Monk abre o Porto Alegre em Cena e prepara trabalho com Björk

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/09/2015 02h00

    Uma obrigação que Meredith Monk, 72, leva a ferro e fogo é a de "deixar um benefício qualquer ao mundo", diz. Dez dias antes de abrir o festival de teatro Porto Alegre em Cena –que começa nesta quinta (3) e ocupa a capital gaúcha até o dia 21– a performer, dançarina, cineasta e compositora falou por telefone à Folha sobre o próprio envelhecimento e a busca de uma arte mais espiritual.

    A palavra benefício, por um instante, pareceu abrangente demais. Houve um silêncio de Monk –e até silêncio ela sabe fazer. "Bom", prosseguiu, "meu benefício seria o de afirmar a vida. Eu sei que meu trabalho sempre foi um pouco nesse sentido, mas, enquanto envelheço, acho que estou me tornando mais consciente dessa importância", explicou, deixando, mais uma vez, uma abertura para interpretações. Como a música poderia afirmar a vida?

    Se para a construção de cenas e coreografias o tema pode parecer abstrato, na música há um reflexo contrário.

    Julieta Cervantes/The New York Times
    ** PHOTO MOVED IN ADVANCE AND NOT FOR USE - ONLINE OR IN PRINT - BEFORE NOV. 30, 2014. ** FILE — Meredith Monk, the composer, vocalist, dancer, choreographer, director and filmmaker, in New York, March 18, 2014. A star and survivor of that 1970 New York scene, Monk is now marking the 50th anniversary of the start of her professional career. “I’ve been in fashion, out of fashion,†Monk said. “I just keep trucking along.†(Julieta Cervantes/The New York Times) ORG XMIT: XNYT54 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A artista performática americana Meredith Monk

    O último grande trabalho de Monk foi "On Behalf of Nature" (em nome da natureza, 2014), em que sons e expressões corporais, conduzidos por um conjunto de músicos-bailarinos sobre o palco, fazem essa ponte estranha e ao mesmo tempo familiar entre música e paisagem. Ela diz ser "uma peça meditativa sobre o meio ambiente".

    ESTALOS E ZUNIDOS

    Com 50 anos de carreira, comemorados no ano passado, a americana é autora de um estilo de vocalização que lhe permite uma vasta gama de sonoridades que transbordam tons e semitons e conjugam à música estalos, assovios, zunidos. Dão, em suma, atenção especial à associação entre alma e natureza.

    A arte de Monk propõe um modo de vida simples, exercícios de vocalização diários e respeito a hábitos saudáveis que lhe permitem uma voz bastante jovial. "Você bebe água gelada?", pergunto. Ela solta uma sonora gargalhada e responde: "Gosto de café preto bem forte".

    A espiritualização vem de longa data, e a figura de Monk traz uma espécie de acento místico ao experimentalismo das vanguardas, dos jazzistas, dos minimalistas. As terras geladas do norte do Canadá já a inspiraram a compor músicas e shows, os desertos do Novo México (EUA) também reverberam no conceitual "Songs from the Hill" (canções da colina, 1979), que é quase todo apenas voz.

    Ela conta que gestou as composições do disco sentada sobre um monte, à espera de iluminação.

    "Songs from the Hill", bem como outros trabalhos dos anos 1970, trazem fortes momentos de identificação com os minimalistas –Philip Glass e Steve Reich são da mesma geração de Monk–, e uma ou outra canção deverá ser executada pelo conjunto de quatro músicos que a acompanha em Porto Alegre.

    Sobre o palco, ainda estão Katie Geissinger (voz), Allison Sniffin (voz e teclado) e Bohdan Hilash (instrumentos de sopro). "Seremos apenas quatro, mas a intenção é cobrir muitos anos de música, desde o início da minha carreira", ela adianta.

    Nos anos 1960 e 1970, prossegue, seu trabalho podia soar "bastante estranho", exceto para os jazzistas, "eles realmente entendiam o que eu fazia com a minha voz", diz. "Agora eu acho que muita gente já ouviu ao menos uma das minhas gravações e pode sentir que minha música faz parte de sua vida."

    Entre as mudanças mais significativas na carreira de meio século, Monk avalia, está a crescente incorporação de instrumentos à partitura de vozes, ainda que ela sempre tenha defendido a ideia de que a voz é também instrumento musical.

    BJÖRK

    As texturizações etnográficas e a compreensão do folk influenciaram músicos mais jovens, como a islandesa Björk, que admitiu em Monk uma referência. Segundo o jornal britânico "The Guardian", Björk diz que foi por causa de um álbum da americana, "Dolmen Music" (1981), que decidiu abrir seu léxico para a potência da voz. Antes, interessava-se mais por instrumentos.

    Segundo Monk, ela e Bjork têm muito em comum, não apenas de "um lado espiritualizado" mas também de uma "curiosidade sobre todas as coisas". Esse espelhamento as conduziu a pensar em um futuro dueto de veia teatral, já em processo de criação. "Talvez antes de morrer a gente possa concluí-lo", revela.

    MEREDITH MONK & VOCAL ENSEMBLE
    QUANDO qui. (3) e sex. (4), às 21h
    ONDE Theatro São Pedro, pça. Mal. Deodoro, s/ nº, Centro Histórico, Porto Alegre, tel. (51) 3227-5100
    QUANTO R$ 40 a R$ 80 (esgotados)
    CLASSIFICAÇÃO livre

    *

    AO SUL Destaques do Porto Alegre em Cena, mais tradicional festival internacional de teatro do país

    Divulgação
    Cena da peça A Aula Magna com Stalin, de William Pereira ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena da peça 'A Aula Magna com Stalin'

    "Attends, Attends, Attends... (Pour Mon Père)", de Jan Fabre (Bélgica). O bailarino Cédric Charron fala sobre relações entre pai e filho (Dias 5 e 6, às 21h)

    "A Aula Magna com Stalin", direção de William Pereira (Brasil). No texto de David Pownall, o ditador Stálin tenta definir novos rumos da arte (Dias 9 e 10, às 20h)

    Guto Muniz/Divulgação
    Contrações, do grupo 3, com Dábora Falabella ORG XMIT: A trama se passa dentro do escri ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    'Contrações', peça do Grupo 3, com Débora Falabella

    "Contrações", do Grupo 3 (Brasil). Com texto de Mike Barlett, Débora Falabella vive uma mulher que sofre com manipulações no trabalho (Dias 14 e 15, às 21h)

    "Marx in Soho", direção de Juan Tocci (Uruguai). Karl Marx (Cesar Troncoso) discorre sobre seus pensamentos e o amor por sua mulher, Jenny (Dias 11 e 12, às 20h)

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024