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    'Aceitei meu lado mau', diz Johnny Depp em Veneza, sobre novo papel

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

    04/09/2015 10h10

    "Descobri meu lado mau há muito tempo e eu o aceitei. Somos velhos amigos", brinca o ator Johnny Depp na conferência de imprensa que se seguiu à exibição de "Aliança do Crime", filme que fez sua estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza.

    Dirigido por Scott Cooper, o longa estreia em 12 de novembro no Brasil. A trama é inspirada em caso real, Depp interpreta Jim "Whitey" Bulger, gângster sanguinário que atuou em Boston entre os anos 1970 e 1980 e colaborou com o FBI para derrubar um grupo rival de mafiosos que ameaçava seus negócios criminosos.

    "Não acho que ninguém acorda, se olha no espelho de manhã e se enxerga como uma pessoa má", disse Depp. "No contexto dele, a violência fazia parte do seu trabalho e da linguagem de todo mundo envolvido naquele mundo."

    Após a exibição, aplaudida pelos jornalistas que lotaram a maior das salas de cinema do festival, o que se comentava é que o papel pode render ao ator sua quarta indicação ao Oscar, prêmio que ele nunca levou.

    Se a tendência se cumprir e a Academia continuar premiando atores que se submetem a uma transformação física, Depp pode levar a estatueta: no filme, ele aparece calvo, pálido e com os olhos azuis.

    "Achávamos que era muito importante parecer o mais humano possível, capturar o visual do personagem da forma mais exata."

    No filme, de levada "scorsesiana" (repleto de violência, edição rápida, personagens crápulas), Bulger é o rei do crime no sul de Boston, área degradada, ocupada basicamente por descendentes de irlandeses.

    Joel Edgerton interpreta John Connolly, o agente do FBI que cresceu na mesma vizinhança que Bulger e seu irmão, o senador estadual Bill (Benedict Cumberbatch). Para desbaratar os membros da máfia italiana que atuam na cidade, ele propõe um polêmico acordo com o grupo de Bulger.

    "Johnny é uma das pessoas mais generosas que conheço e o vi se transformar nesse psicopata", disse Scott Cooper, também presente na conferência. "É um ator que aceita riscos que os outros não aceitam", comentou o diretor.

    Depp se revela um gângster perverso: chantageia, enforca, dá tiros à queima-roupa. Mas também ajuda uma velhinha a levar suas compras de supermercado e se mostra um pai carinhoso.

    "Uma coisa eram os seus negócios, outro lado era a sua dedicação à família", diz o ator, que tentou entrar em contato com o Bulger da vida real. "Mas ele declinou de forma respeitosa."

    Edgerton comentou a responsabilidade de interpretar personagens reais: "Você teme a responsabilidade, mas pensar que é uma versão fictícia de tudo aquilo ajuda um pouco."

    Depp completou: "Não importa se a pessoa é boa ou ruim, a responsabilidade é enorme."

    De paletó verde e fazendo piadas com sua marcante voz arrastada, Depp falou dos fãs que o esperavam há horas do lado de fora da sala onde o filme será exibido ao público. "Eles são meus patrões, são os que compram os ingressos. Não gosto de chamá-los de fãs."

    Refletiu sobre o seu trabalho como ator: "Não estou certo se em algum momento decidi atuar. Eu era um músico. Atuar te leva a gastar muito tempo dizendo palavras que não são suas."

    Uma jornalista perguntou ao ator se ele trouxe a Veneza seus cães após Depp ter se envolvido numa polêmica após levar seus dois yorkshires ilegalmente à Austrália durante a gravação do novo "Piratas do Caribe": "Eu os matei e os comi", brincou.

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