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    Historiador Joel Rufino dos Santos morre aos 73 anos, no Rio

    DO RIO

    04/09/2015 13h22

    Um dos maiores especialistas em cultura e herança africanas no Brasil, o historiador e escritor carioca Joel Rufino dos Santos, 73, morreu nesta sexta (4), no Rio, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca.

    Ele estava internado na Casa de Saúde São José, no Humaitá, zona sul do Rio, onde foi operado no dia 1º de setembro para corrigir problema numa válvula cardíaca.

    Filho de pais pernambucanos, caçula de uma família de quatro filhos, nasceu no subúrbio de Cascadura, zona norte do Rio. Formou-se em história na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (atual UFRJ), onde também começou a sua carreira de professor.

    Angelo Duarte
    LOCAL E DATA DESCONHECIDA: O historiador Joel Rufino dos Santos, autor do livro "Quem ama literatura não estuda literatura - Ensaios indisciplinados", posa para retrato. (Foto: Angelo Duarte) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O historiador Joel Rufino dos Santos, especialista em cultura africana, que morreu nesta sexta (4)

    A convite do historiador Nelson Werneck Sodré (1911-1999), trabalhou no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

    Lá, foi um dos coautores da coleção "História Nova do Brasil", marco da historiografia brasileira lançada em 1964 e logo proibida pela ditadura, que extinguiu o Iseb e o fez deixar o país, levando-o a viver na Bolívia e no Chile.

    O exílio interrompeu a sua vida acadêmica e o levou a não acompanhar o nascimento do seu primeiro filho.

    Voltou ao Brasil em 1966 e militou na Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização revolucionária comunista criada em 1967. Foi preso três vezes e torturado –na última delas, cumpriu pena de 1972 a 1974, no Presídio do Hipódromo, em São Paulo.

    Com a aprovação da Lei da Anistia (1979), foi reintegrado ao MEC e convidado a dar aulas na UFRJ. Recebeu, do Ministério da Cultura (MinC), a comenda da Ordem do Rio Branco pelo trabalho com a cultura brasileira.

    Como autor, deixou produção plural na qual se destacam livros de história e de cultura afro-brasileira e obras para crianças e jovens, com as quais ganharia dois prêmios Jabuti, por "Uma Estranha Aventura em Talalai" (1979) e "O Barbeiro e o Judeu da Prestação contra o Sargento da Motocicleta" (2008).

    Seus livros mais recentes foram os infantojuvenis "A Menina que Descobriu o Segredo da Bahia" e "Eu contra Ele nas Cavernas de Minas", ambos publicados em 2014.

    Além de professor universitário, foi presidente da Fundação Cultural Palmares, ligada ao MinC, e diretor do Museu Histórico do Rio.

    FUTEBOL

    Em artigo na Folha em julho de 2014, Rufino analisou, a partir da derrota da seleção brasileira na Copa, a forma como o brasileiro enxerga o futebol e a sociedade.

    "Mais ou menos entre 1940 e 1970, sob a república populista, tornamo-nos 'os melhores do mundo', 'o país do futebol' etc. Populista aqui não na acepção de demagogia, mas como a fórmula de poder carismático que empurrou as massas para dentro do jogo político. Foi bom ser povo naqueles anos: poderosos e pobres confiavam medianamente uns nos outros", escreveu.

    Disse ainda que "qualquer juízo de qualidade sobre o futebol" deveria levar em conta a perspectiva história.

    Nos últimos tempos, Rufino exercia o cargo de diretor de Comunicação do Tribunal de Justiça do Rio, onde fez ações vinculadas à causa pública e à cidadania, como a cerimônia de "desenforcamento" de Tiradentes e a realização de um baile charme no tribunal.

    Casado com Teresa Garbayo, Joel Rufino dos Santos deixa dois filhos e quatro netos. Seu corpo será cremado na tarde de sábado (5), no Memorial do Carmo, no Rio.

    *

    REPERCUSSÃO

    "Era meu bom amigo de mais de trinta anos. Sou um velho companheiro, amigo e leitor do Joel. Foi um grande escritor, sobretudo por sua imaginação espantosa, capaz de recriar épocas, não apenas fiéis às imagens que dela nos chegaram por documentos e pinturas, mas também por sua própria imaginação. Seu melhor livro, ao meu ver, foi 'Crônica de Indomáveis Delírios'. Além de um escritor, foi um participante da vida brasileira, sobretudo dos esforços para melhorar as condições de vida das populações descendentes de africanos. Ele lhes devolveu o orgulho, o sentimento de terem sido elementos vitais da construção do Brasil. Combateu esse bom combate."
    Alberto da Costa e Silva, historiador especializado na história da África e membro da Academia Brasileira de Letras

    "O Grupo Editorial Record lamenta a morte, nesta sexta-feira (4/9), do escritor, historiador e professor Joel Rufino dos Santos. Autor prolífico e plural, Rufino publicou dezenas de livros, entre romances, memórias, biografias, artigos, ensaios, obras de história e de sociologia. Escrevia para adultos, jovens e crianças com a mesma dedicação e talento e, além disso, era um nome de referência em cultura afro-brasileira. Foi agraciado duas vezes com o Prêmio Jabuti (em 2008 e em 1979) e indicado várias vezes ao Hans Christian Andersen - o mais importante prêmio internacional de literatura infantojuvenil. Joel Rufino dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Gostava de ler e escrever desde menino. O autor morreu aos 73 anos, em decorrência das complicações de uma cirurgia cardíaca."
    Grupo Editorial Record, onde Rufino publicou cinco livros, entre eles "Claros Sussurros de Celestes Ventos" e "Quatro Dias de Rebelião"

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