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    Cineasta negra fala sobre cabelo e empoderamento na Bienal do Livro

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    04/09/2015 20h12

    "Estamos num momento em que a mulher negra vê o seu cabelo como ele realmente é pela primeira vez", disse a jovem cineasta Yasmin Thayná, 22, para uma platéia de homens e mulheres, brancos e negros, na Bienal do Livro na tarde desta sexta-feira (4).

    Thayná, que exibe um black power poderoso, foi ao evento para falar sobre seu filme, "Kabela", um curta-metragem experimental que celebra o cabelo da mulher negra. Estréia na próxima terça-feira (8) no Cine Odeon, no Rio.

    Ele nasceu do conto MC K-bela, que relata a história de uma menina que sofre durante toda a infância e adolescência por ter cabelo crespo e um dia decide se libertar dos alisamentos.

    "As mulheres negras começam a alisar o cabelo com cinco anos de idade. Quando convocamos voluntárias para atuar no filme, começaram a surgir relatos de meninas que diziam ter entrado em depressão porque o namorado a abandonou ou porque a família não aceita que ela não alise o cabelo", contou Thayná.

    Reprodução/Instagram/yasminthayna
    A cineasta Yasmin Thayna
    A cineasta Yasmin Thayna

    "Quando você muda de cabelo, é um momento complicado porque ele é seu, mas você não o conhece porque sempre tentaram apagar ele de você. O cabelo crespo é o único que tem que dar um jeito."

    A equipe que realizou o filme e que será responsável por sua divulgação é toda composta por negros. "Tivemos uma preocupação que foi a questão do serviço de preto. A gente faz um trabalho bem feito para criar uma narrativa e dizer 'esse é o trabalho de preto', que a gente sempre fez, mas sempre foi silenciado", diz Thayná.

    Para Thayná, o filme não é um ato político isolado, mas sim parte de um momento de afirmação de negros em diversas áreas.

    "Veja uma mudança grande. Lili e Lulu fizeram o primeiro editorial de moda com crianças crespas. O número de afroempreendedores que existe, pessoas que fazem produtos focando na questão afro é enorme. Vejo uma mudança grande nas narrativas, nos modos de negócio, no mercado, nas pessoas indo para a universidade, mudança de biografia."

    "As pessoas gostam da cultura negra, mas não gostam das pessoas negras", diz Bruno Duarte, que faz parte da equipe de comunicação do filme. "Quando a gente propõe um filme em que os negros estão produzindo essas novas narrativas, quando ocuparmos esse espaço, vão haver mudanças, sim".

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