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    14ª edição da Bienal de Istambul começa com fórmula nada secreta

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    09/09/2015 02h20

    Mesmo quando faltavam alguns dias para começar, a Bienal de Istambul ainda se desenhava como um grande ponto de interrogação. À frente desta 14ª edição, que acontece até 1º de novembro, a norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev se recusou a anunciar uma lista de nomes que estariam no evento.

    Uma exposição do tipo sem um elenco revelado não diz muito a que veio, já que burla as apostas que se formam em torno de cada bienal, com o mercado tentando especular quem vai estourar e a crítica pesando quem merece.

    Numa trajetória polêmica, esse é mais um truque de Chr-istov-Bakargiev na tentativa de desviar o foco das artes visuais do ego de seus protagonistas para as obras que constroem. Já sabidos os nomes, no entanto, tudo parece um pouco mais do mesmo, o que no caso dessa curadora não significa pouca coisa.

    Fabio Cypriano/Folhapress
    Instalação de Adrian Villar Rojas exibida na Bienal de Istambul
    Instalação de Adrian Villar Rojas exibida na Bienal de Istambul

    Estão lá autores fortes que já figuraram em outras mostras de Christov-Bakargiev, como o argentino Adrián Villar Rojas, a egípcia Anna Boghiguian, a canadense Janet Cardiff, o sul-africano William Kentridge e o brasileiro Cildo Meireles.

    Essa repetição se deve a uma fórmula nada secreta. "Sempre que faço uma exposição tento reservar um terço do espaço para os artistas que já trabalham comigo, um terço para nomes do lugar onde a mostra acontece e outro terço para artistas emergentes", diz Christov-Bakargiev.

    Depois de comandar há três anos uma aclamada edição da Documenta, em Kassel, na Alemanha, e subir ao Olimpo do mundo da arte, a americana passou os últimos anos em reclusão, dando aulas em Harvard, Northwestern e outras universidades de prestígio nos EUA.

    O exílio acadêmico só reforçou sua inclinação por abrir o mundo da arte a outras disciplinas, tendência em instituições do mundo todo –em São Paulo, o Masp nomeou há pouco a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz como uma de suas curadoras.

    "Estive imaginando como criar um sistema de exposições em que a arte possa fazer uma ponte com a ciência", diz Christov-Bakargiev. "É uma forma de ver os museus do futuro."

    Mas ela não deixa de olhar o passado, em especial numa cidade como Istambul, atravessada por intensos fluxos migratórios e culturais ao longo da história.

    Talvez por isso, refletindo a visão de uma metrópole cindida entre Europa e Ásia, ela tenha espalhado a mostra por toda a cidade turca, obrigando visitantes a cruzar o Bósforo de barco o tempo todo.

    Uma das imagens que usou para sintetizar a exposição, aliás, é o desenho instável das ondas do mar, abrindo espaços para a reflexão sobre questões tão díspares quanto o genocídio armênio, tema que neste ano completa cem anos, e o art nouveau turco.

    "Fiquei pensando na imagem das ondas e dos nós, a ideia de um nó como coisa traumática", diz Christov-Bakargiev sobre o conceito. "Pensei em todos os artistas como parte de uma constelação que forma essa Bienal."

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