• Ilustrada

    Wednesday, 01-May-2024 07:28:31 -03

    Mais lírico, Rodrigo Braga se prepara para mostra individual em São Paulo

    NINA RAHE
    DE SÃO PAULO

    09/09/2015 02h30

    O artista Rodrigo Braga diz que está mais manso. Na última quinta-feira (3), ele passou quase cinco horas construindo uma espécie de casa na árvore, localizada em uma rotatória na entrada da USP.

    À frente de uma equipe de vídeo com três câmeras e quatro integrantes, além de duas produtoras, um ajudante e uma figurinista, Braga registrou a performance "Abrigo de Paisagem/Veículo de Passagem", que poderá ser vista em vídeo na individual que será aberta em 9 de outubro, no Paço das Artes.

    No canteiro central, Braga deu partida em um Voyage azul e logo estacionou embaixo de um flamboyant. Então desamarrou os portões de ferro que trazia no rack, os arremessou na grama e começou a construir um cercado, utilizando 19 metros de grades.

    Fabio Braga/Folhapress
    O artista Rodrigo Braga realiza perfomance no Paço das Artes, no Campus da USP
    O artista Rodrigo Braga realiza performance no Campus da USP, para exposição no Paço das Artes

    "A concentração e o esforço físico geram a potência da imagem. Há muito envolvimento, até para conseguir carregar o peso", diz o artista de estrutura miúda (1,69 m de altura e 57 kg), visivelmente cansado após a ação performática que contou, em certos momentos, com a força do ajudante de 1,80 m e 80 kg.

    MIGRAÇÃO

    A equipe de agora dá ares de superprodução ao processo do artista manauara, que vive no Rio e está habituado a trabalhar sozinho.

    Em 2009, por exemplo, para desenvolver "Desejo Eremita", ele chegou a passar três meses isolado no sertão de Pajeú, em uma cidade de nome Solidão –nas fotografias, seu corpo nu aparece mergulhado no leite, e entre pedras, chifres e carcaças.

    Nos últimos anos, no entanto, Braga vem vivenciando quase uma migração do campo para a cidade.

    "Antes aplicava para muitos editais e esses projetos me levavam aonde eu queria, pois era eu quem os escrevia. Hoje recebo convites, não tenho muita gerência dos lugares para onde vou", explica ele, que expôs recentemente na Bélgica e nos Estados Unidos e deve realizar uma individual em 2016 no Palais de Tokyo, na França.

    A mostra no Paço das Artes, com curadoria de Priscila Arantes, é exemplo da transição. Nela, o artista explora a relação entre homem e meio ambiente dentro da cidade. O vídeo descrito aqui fará parte de uma instalação composta pelo motor obsoleto de um carro e a raiz de uma árvore.

    Para realizar o projeto, Braga enfrenta problemas práticos. "São as complexidades da complexidade que o trabalho assume", ele resume. Entre eles, a dificuldade de transportar uma raiz de grande porte para o espaço expositivo, que, por conta das escadas, dificulta a entrada de uma empilhadeira.

    O artista diz já ter se modificado em função dos próprios trabalhos –há oito anos, não come mais carne de boi nem galinha– e assume o caráter biográfico de muitas obras.

    FOCINHO DE CÃO

    É o caso de "Fantasia de Compensação", trabalho no qual simula costurar focinho, olhos e orelhas de um rottweiler no próprio rosto.

    A série foi realizada 11 anos após o artista encontrar um cão doente no meio da rua e se reconhecer tão doente quanto ele. "Foi a partir daí que comecei um contato radical com a natureza."

    Há quem diga que o artista está mais lírico. Ele não discorda, mas ainda se surpreende com o caráter agressivo de sua obra.

    Após uma noite de sono atrapalhado pelo trânsito ao redor da casa que acabara de construir, Braga seguiu viagem para Bragança Paulista, onde continuou sua performance: estacionado mais uma vez embaixo de uma árvore, destroçou com violência seus galhos e construiu, com eles, novo abrigo.

    Braga já espera por retaliações –filho de biólogos, ele mesmo não admitia gestos como esse na juventude–, mas explica que é o álibi da arte: "Não me privo de realizar experiências importantes. Estou reproduzindo situações, costumes e hábitos da nossa própria sociedade".

    Abrigo de Paisagem/ Veículo de Passagem
    ONDE: Paço das Artes, av. da Universidade, 1, Vila Universitária, tel. (11) 3814-4832
    QUANDO: qua. a sex., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 11h às 18h; de 9/10 a 13/12
    QUANTO: grátis

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024