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    CRÍTICA

    TV paga exibe 'Bruna Surfistinha', 'Juno' e 'Whiplash'; programe-se

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    14/09/2015 08h50

    SEGUNDA-FEIRA (14)

    E, no fim das contas, Bruna Surfistinha é o tipo de mulher capaz de preencher o imaginário nacional _mas em especial o paulista. Eis o que fica claro em "Bruna Surfistinha" (2011, Sony, 22h30 e 1h30).

    O filme é baseado na narrativa feita em livro por uma ex-garota de programa. Eis uma curiosidade geral: o que se passa na cabeça de uma prostituta, o que deseja, qual seu sofrimento, sua culpa etc. Podemos dizer que o filme dá conta disso.

    Mas Bruna é uma mulher moderna. Nem grandes culpas, nem grandes sentimentos. Em sua vertiginosa ascensão, o que ela revela mesmo é um grande sentido dos negócios, a iniciativa, o gosto do lucro, o marketing (o codinome "Surfistinha" é atraente: fala de juventude, energia, mas também de certa calculada inocência).

    Bruna revela-se uma empresária em área, no mais, não sujeita à regulamentação e à burocracia estatais. É o que filme tem de mais excitante, afinal.

    Divulgação
    Cinema: da esq. para dir. as atrizes Fabiula Nascimento, Deborah Secco, Simone Iliescu e Cristina Lago em cena do filme "Bruna Surfistinha", de Marcus Baldini. (Foto: Divulgação)( ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Fabíula Nascimento (esq.), Deborah Secco, Simone Iliescu e Cristina Lago em cena do filme "Bruna Surfistinha"

    TERÇA-FEIRA (15)

    O que "Juno" (2007, Paramount, 18h20) traz de novidade não é seu tema, nem mesmo sua mise-en-scène. É, antes, uma atitude.

    Juno, 16, é uma garota decidida. Isso se percebe pelo seu corpo, pela sua voz. Quando fica grávida, meio que por acaso, ela não se abate: resolve ter o filho e lhe dar um determinado destino.

    O que o filme tem de encantador é, justamente, certa capacidade de Juno de não aceitar soluções prontas, de improvisar, de se deixar levar pelo momento.

    Pode ser perigoso. Talvez menos que "Um Método Perigoso" (2011, TC Cult, 0h15), em que David Cronenberg examina as relações entre Freud e Jung, no momento de uma psicanálise nascente, tendo entre eles a análise de Sabina Spielrein, também futura e brilhante psicanalista.

    Em tempo: "Juno" é obra de Jason Reitman, um dos bons diretores em atividade nos EUA, e filho de Ivan Reitman, parceiro de Cronenberg em seus primeiros filmes.

    *QUARTA-FEIRA (16)

    Poucos filmes têm uma abertura tão forte quanto a de "O Resgate do Soldado Ryan" (1998, Fox, 22h). E pouco importa que Spielberg tenha se valido das filmagens originais do desembarque na Normandia pelos Aliados em 1944.

    É no inferno da guerra que essa sequência nos joga sem nenhum aviso prévio. O que vem depois, no entanto, é bem mais frouxo.

    A saber: o soldado Ryan é o único de quatro irmãos que ainda resta vivo. Ele se encontra atrás das linhas inimigas. O comando militar se compadece de sua mãe e manda um grupo salvar Ryan a todo preço.

    É quando o filme vira operação de Estado Maior. Quer dizer: generais e similares não usam jovens como bucha de canhão: são humanistas capazes de param a guerra para preservar uma mãe...

    Há momentos em que Spielberg se afunda num mar de boas intenções e se sai bem ("E.T."). E outros em que as boas intenções referendam a truculência bélica: é o caso aqui.

    QUINTA-FEIRA (17)

    É verdade que os batmaníacos nunca admiraram demais as versões de Tim Burton para seu herói favorito.

    É verdade também que Burton tocou em teclas que parecem não sensibilizar o herói milionário. Sim, Batman encarna um pouco a ideia daquele cartaz de passeata segundo o qual ricos têm de governar, pois, sendo ricos, não roubam.

    Ora, Burton não dá a mínima para esse aspecto. Importa-lhe aqui tocar na política suja de Gotham City, representada, no caso, pelo Pinguim.

    Ou seguir os estranhos caminhos do desejo, representados aqui pelo sadomasoquismo da Mulher-Gato, e suas relações de amor e ódio em relação a Batman. Esse olhar que não o desnatura, e sim o enriquece (não no sentido milionário da palavra).

    Ainda hoje, "Coutinho.doc - Apartamento 608" (2009, TV Brasil, 0h45), documentário que examina o método de criação do importante documentarista, a partir de seu trabalho em "Edifício Master".

    SEXTA-FEIRA (18)

    Pode-se ver "A Mosca" (1986, Paramount, 23h50) como um exemplar do "horror nojento" de David Cronenberg, como há quem goste de dizer.

    Pode-se ver também como um horror que retoma o sentimento trágico dos grandes exemplares do gênero. Aqui, um cientista experimenta em sua própria pele a máquina de teletransporte que acaba de criar.

    O problema: enquanto faz o experimento, uma mosca entra no aparelho, de modo que, ao se recomporem, suas moléculas são contaminadas pelo animal.

    Esse moderno Prometeu não terá suas vísceras comidas eternamente por uma águia (outro caso de horror nojento?), mas será condenado a transformar-se em homem-mosca, terrível mutante sem lugar no reino humano, nem no reino animal. Filme memorável.

    Por falar em mutações: também hoje passa a criativa mistura de atores e desenhos animados de "Uma Cilada para Roger Rabbit" (1988, TCM, 22h), de Robert Zemeckis.

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    Miles Teller e J.K. Simmons estão no drama musical "Whiplash - Em Busca da Perfeição"
    Miles Teller e J.K. Simmons estão no drama musical "Whiplash - Em Busca da Perfeição"

    SÁBADO (19)

    Em "Whiplash - Em Busca da Perfeição" (2014, HBO, 22h), um professor de música que exige de seus discípulos nada menos que a perfeição. E um jovem e talentoso baterista torna-se sua vitima. Ok. O filme indaga qual o limite entre grandes exigências e sadismo puro e simples.

    É uma boa questão. A música (mais até que outras disciplinas) exige sacrifícios. Sem isso não se domina a técnica etc. e tal. Uma coisa, no entanto, parece clara: o prazer deve superar o sofrimento e a dor para ser consequente.

    Pode-se dizer, aliás, que boa parte da música consiste em superação da dor (o jazz negro é um exemplo) pela alma. Se "Whiplash" não se completa, isso se deve em boa parte a incorporar as concepções do inflexível professor. Daí resulta um filme um tanto duro, sem a flexibilidade que música e cinema pedem.

    Ah, hoje reprise de "Deus e o Diabo" (1964, TV Brasil, 0h05), perfeitamente imperfeito.

    DOMINGO (20)

    Sim, os anos 1980 e sequelas foram uma era de ouro da ficção científica no cinema. Nem é preciso remeter à imaginação cheia de humor de um "De Volta para o Futuro".

    Podemos ficar com exemplares mais angustiados, que hoje dão lugar a sequências ou "remakes" meio tolos. Dois deles passam hoje: "O Exterminador do Futuro" (1984, FX, 22h10), de James Cameron. trata de um ciborgue que chega do ano 2009 para liquidar no nascedouro o futuro líder dos humanos que entrarão em luta com as máquinas-homens.

    Distorção fabulosa do tempo, que encontra eco em "O Vingador do Futuro" (1990, TCM, 20h05), de aul Verhoeven, onde a ciência já criou implantes de memória que substituem as viagens de verdade (mas fazem a alegria das agências de turismo). Só que algo sai errado no implante de nosso herói e suas férias em Marte serão agitadas.

    Dois belos filmes, que devem muito, aliás, ao ator: Arnold Schwarzenegger.

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