• Ilustrada

    Wednesday, 15-May-2024 05:58:53 -03

    CRÍTICA

    Revisitada, 'Suburbano Coração' ganha beleza e resiste ao tempo

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    15/09/2015 02h26

    Encenada em 1989, com Fernanda Montenegro e Otávio Augusto, a peça "Suburbano Coração", de Naum Alves de Souza, preserva valores de uma década que foi capaz de perdoar o mau gosto –e extraiu daí um substrato.

    Revisitado sob direção de Nelson Baskerville, o texto é colocado à prova: se resiste ao tempo, é porque gosto a gente discute.

    Só que há um paradoxo, pois a peça parece falar agora sob o viés de um modismo.

    A plateia da montagem de Baskerville não precisa perdoar muita coisa. A gente já aceita a calça listrada e o terno xadrez no mesmo figurino, a coleção de pinguins de geladeira a gente acha superfofa, os vestidos de cetim, as imagens religiosas e as gravuras orientais na parede azul ciano, também.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 09-09-2015. Espetaculo Suburbano Coracão. Atrizes Luciana Azevedo (Esq) Aldine Muller (centro) e Luiza Jorge. Teatro Cacilda Becker. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Da esq.: as atrizes Luciana Azevedo, Aldine Muller e Luiza Jorge em "Suburbano Coração"

    É esse o cenário da nova versão, e ele tem mais a ver com o bairro paulistano da Vila Madalena do que com o nome da protagonista Lovemar (Luiza Jorge). Não reflete, na personagem central, em sua busca por um grande amor, a cafonice de outras épocas. Coloca-a, ao contrário, a par das últimas tendências, mostra uma mulher talvez de bom gosto até! Baskerville, que assina o cenário com Amanda Vieira, entende do babado.

    O mau gosto narrativo de "Suburbano Coração" e sua simplicidade dramatúrgica, antes vista com bons olhos, também giram um pouco em falso, atualmente.

    As situações cômicas são menos cômicas, parecem tratar de preconceitos tardios –ainda que preconceitos sejam sempre tardios. As piadas sobre o homossexual enrustido enrugaram. E, no entanto, aqueles personagens ainda existem por aí.

    O elenco carrega na caricatura, e até isso é de bom gosto agora. Claudinei Brandão é engraçado sem fazer qualquer esforço.

    O texto resistiu ao tempo, certamente. A montagem de Baskerville mostra que, estranhamente, ele perdeu comicidade e ficou mais belo. O cafona tem poder. E esse lado lisérgico revela um texto de um autor que riu de valores românticos sem subjugá-los.

    SUBURBANO CORAÇÃO
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom. às 19h; até 1º/11
    ONDE Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295, tel. (11) 3864-4513
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024