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    CRÍTICA

    Ator estreante magnetiza tela no longa francês 'De Cabeça Erguida'

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    DE CRÍTICO DA FOLHA

    17/09/2015 02h05

    Duas mulheres discutem a respeito da guarda de um pequeno garoto. Não se veem suas faces, apenas se ouve um diálogo ríspido. No centro da cena, o menino reage turbulento enquanto nos encara com um olhar inquisidor: de quem é a culpa?

    A situação serve de prólogo a "De Cabeça Erguida", filme da francesa Emmanuelle Bercot que atraiu a atenção ao ser escolhido para abrir o Festival de Cannes deste ano.

    A violência contida da cena também anuncia um drama de insubordinação, da rebeldia como modo de expressão, da violência como resposta à violência. Esta característica tem no Antoine Doinel, protagonista de "Os Incompreendidos", de François Truffaut, uma matriz cuja influência persiste no cinema.

    Divulgação
    Os atores Rod Paradot, Sara Forestier em"De Cabeça Erguida" Crédito Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Os atores Sara Forestier e Rod Paradot em"De Cabeça Erguida"

    Por meio de elipses que intensificam e lançam o drama, "De Cabeça Erguida" revela a transformação de Malony da criança indefesa vista no primeiro momento em um adolescente selvagem e criminal.

    Em torno dele, a mãe inepta e drogada (Sara Forestier) e uma juíza de menores (Catherine Deneuve) se confrontam a respeito de saídas para arrancar o jovem do destino ao qual parece condenado.

    Bercot põe em contraste os efeitos da liberdade ilimitada com a função das leis de enquadrar e coibir. O discurso moral, no entanto, não pesa nem sobrecarrega o filme na medida em que a direção prefere seguir o desempenho do estreante Rod Paradot no papel de Malony, personagem que provoca respostas ambíguas, ao qual reagimos com aversão e afeto.

    Como Jean-Pierre Léaud em "Os Incompreendidos" (1959) ou Sandrine Bonnaire em "Aos Nossos Amores" (1983), primeiros trabalhos de ambos atores, Paradot magnetiza todas as cenas e, assim, desloca o foco do drama social para sua atuação.

    O efeito colateral dessa proeza é que "De Cabeça Erguida" estica e puxa um pouco demais as situações, reitera para subjugar o espectador com a performance abundante do protagonista.

    Se tivesse meia hora a menos, o filme venceria mais pela força do que pelo cansaço.

    DE CABEÇA ERGUIDA (La Tête Haute)
    DIREÇÃO Emmanuelle Bercot
    ELENCO Sara Forestier, Catherine Deneuve, Rod Paradot
    PRODUÇÃO França, 2015, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (17)

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