• Ilustrada

    Wednesday, 01-May-2024 20:08:45 -03

    Análise: Emmy 2015 reparou injustiças e apontou caminhos

    LUCIANA COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    21/09/2015 00h43 Erramos: o texto foi alterado

    Na noite que consagrou "Veep" e "Game of Thrones", uma minissérie e um discurso roubaram a premiação do Emmy.

    O discurso foi de Viola Davis, emocionada ao se tornar a primeira mulher negra premiada na categoria por seu trabalho em "How to Get Away with Murder", ao citar os percalços que ainda existem para atrizes de sua cor, como padrões estéticos arbitrários rigidamente impostos.

    "A única coisa que separa as mulheres de cor de todo mundo é a oportunidade", disse, às lágrimas, em um discurso que há de ser lembrado, necessário que é.

    Com tanta dispersão de prêmios, coube a uma minissérie, "Olive Kitteridge" (HBO), levar seis troféus principais com um merecimento raro na indústria do entretenimento.

    "Estamos aqui por causa de uma história bem contada. Às vezes é só disso que se precisa", agradeceu Frances McDormand, que interpretou a protagonista, ao receber seu prêmio de melhor atriz em minissérie.

    Sucinto e exato —e um reflexo de que pirotecnias de estilo nem sempre darão conta do recado.

    "Olive", um drama sensível em quatro episódios que acompanha a vida de uma professora amargurada em uma cidadezinha por duas décadas, ainda levou melhor minissérie, roteiro, direção, coadjuvante (Bill Murray) e ator (Richard Jenkins, ótimo, mas o britânico Mark Rylance merecia mais por "Wolf Hall").

    Foi, de forma geral, uma noite sem surpresas, mas com mudanças.

    A mais importante delas, deixar para as grandes TVs abertas apenas o prêmio de Viola e o de melhor atriz cômica coadjuvante (Allison Janney, "Mom"). Reflexo do tempo em que as pessoas veem TV sozinhas, muitas vezes no computador, e que os programas "família", mais convencionais, ficaram para trás de vez.

    Talvez por isso, "Veep" foi consagrada a melhor comédia da noite, levando também roteiro, ator coadjuvante (Tony Hale) e novamente melhor atriz para a genial Julia Louis-Dreyfus, a protagonista Selina Meyer.

    Pela primeira vez, porém, a vitória da eterna Elaine de "Seinfeld" pareceu menos justa (ela ganhou todos os Emmy desde que estreou no papel, em 2012). A sensação neste ano era Amy Schumer, mas a loira boca-suja ficou apenas com o Emmy da nova categoria de melhor comédia em esquetes.

    Em um momento dúbio, a delicadíssima "Transparent", que trata do universo transgênero com a história de um pai que assume sua identidade de mulher e precisa dizer isso aos filhos crescidos, ficou com melhor direção (Jill Soloway) e melhor ator de comédia para Jeffrey Tambor.

    Não que Tambor não esteja sublime, mas é difícil entender a série da Amazon como comédia. Em compensação, "Orange is the New Black" (Netflix), no passado inscrita como comédia, se assumiu como drama e levou a estatueta de atriz coadjuvante com Uzo Aduba, a Crazy Eyes.

    Ah, sim, "Game of Thrones". A série inspirada na obra de George R. R. Martin ganhou fôlego ao se descolar dos livros (avançando além, em algumas tramas) e finalmente conquistou os votantes do Emmy, que até então só lhe tinham reservado prêmios técnicos e um de coadjuvante em 2011. O episódio final levou também os prêmios de roteiro e edição.

    Embora Lena Headey, impecável neste quinto ano como a derrocada Cersei, tenha perdido para Aduba, seu colega Peter Dinklage, o anão Tyrion, prevaleceu na competição mais difícil da noite, de ator coadjuvante.

    Já "Mad Men", que se despediu neste ano, foi embora com apenas um Emmyzinho, de ator dramático, para Jon Hamm.

    Ele havia sido indicado sete outras vezes —sem nunca ter ganho— pela sua inesquecível interpretação do publicitário ególatra e solitário Don Draper. Algumas injustiças foram reparadas neste domingo (20).

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024