A falta de surpresa no Emmy não reduz o peso de a premiação máxima da TV americana reconhecer, finalmente, mudanças que o público abraçara nos últimos anos.

A mais notória delas é o declínio dos grandes canais de TV aberta e a ascensão do hábito de ver TV sozinho (inclusive no laptop ou celular).

Netflix e Amazon, os maiores sites de "streaming", já vinham ganhando terreno (e prêmios) nos últimos anos. Desta vez, porém, nenhuma das séries consagradas na noite de domingo (20) é da ABC, NBC, CBS ou Fox, as grandes emissoras dos EUA.

"Game of Thrones" (melhor drama), "Veep" (comédia) e "Olive Kitteridge" (minissérie) são da HBO, canal a cabo que recentemente lançou seu serviço de "streaming" avulso, desligado das grandes operadoras de cabo.

"Inside Amy Schumer" (comédia de esquetes, uma nova categoria) e o "Daily Show com Jon Stewart" (talk show) são do Comedy Central, cujos programas estão em seu site.

Às grandes, coube apenas o prêmio de atriz dramática (Viola Davis, "How to Get Away with Murder", da ABC) e atriz coadjuvante em comédia (Allison Janney, "Mom", da CBS). É muito pouco.

Essa mudança de hábitos fica mais evidente na premiação de comédia, que abdicou de tramas leves/convencionais para ver em família após o jantar. "Modern Family" não levou o Emmy pela primeira vez desde sua estreia, no fim de 2009, e "Big Bang Theory" nem indicada foi.

Com a audiência pulverizada, ganham espaço roteiros mais ousados, que não têm pretensão de agradar 100% do público —daí "Veep", que usa a modorrenta rotina de vice-presidente dos EUA para criticar a política e faz piadas marcadas pela incorreção, poder vencer.

A consequência mais imediata dessa mudança de matriz é o avanço da diversidade, já que se tornou urgente refletir nas telas todo tipo de gente e de tema, tabu ou não.

É triste mas não inesperado que a TV, institucionalmente, só tenha percebido isso quando se tornou uma questão de mercado.