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    Debates, Oscar e aumento do circuito turbinam 'Que Horas Ela Volta?'

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    23/09/2015 02h00

    Que horas ele cresceu? Foi por volta das 11h do último dia 10, quando o Ministério da Cultura escolheu "Que Horas Ela Volta?" para tentar vaga entre os indicados ao Oscar de filme estrangeiro, coroando o furor em torno do longa de Anna Muylaert?

    Mesmo embalado por críticas estrangeiras elogiosas e prêmios em Berlim e Sundance, o drama social sobre a empregada doméstica Val (Regina Casé) estreou tímido em 23 de agosto: 91 salas no país.

    O filme virou o jogo em sua terceira semana em cartaz, ao alcançar algo raríssimo a uma produção autoral nacional: ampliou seu circuito para 156 salas no Brasil e ultrapassou a barreira dos 200 mil espectadores. Continua em exibição por todo o país.

    Produções recentes com temática social semelhante tiveram bem menos público: "O Som ao Redor" (2012), de Kleber Mendonça Filho, foi visto por 94 mil pessoas, e "Casa Grande" (2015), de Fellipe Barbosa, por 37 mil.

    "'Que Horas Ela Volta?' tem mais identificação com o público: o boca a boca nele vai mais pelo emocional, e não pelo estilo cinematográfico", diz Paulo Sérgio Almeida, diretor do "Filme B", que monitora o cinema nacional.

    O diretor Cao Hamburger ("Xingu", 2012) opina que o sucesso do longa de Muylaert "não é surpresa". "Anna sempre foi cuidadosa com o roteiro dos seus filmes, mas nesse ela atingiu outro patamar."

    Na trama, Val (Casé) é uma empregada que trabalha há anos na casa de uma mesma família abastada. A chegada da filha que ela deixara em Pernambuco, Jéssica (Camila Márdila), com sua visão crítica sobre a relação de submissão a que a mãe é submetida no emprego, muda o filme.

    Para o crítico Ismail Xavier, professor de cinema da USP, o sucesso de "Que Horas..." é a soma do carisma de Regina Casé, o burburinho do Oscar e a narrativa tradicional. "É um filme de formato clássico no bom sentido da palavra: tem uma apresentação, um desenvolvimento e um desfecho marcados", afirma.

    Mayra Lucas, produtora do recordista nacional do ano ("Loucas para Casar", 3,7 milhões de público) acrescenta outros fatores: a coprodução da GloboFilmes e um perfil ativo no Facebook, de 36 mil fãs e várias postagens diárias. "O exibidor dá muito valor à visibilidade que o filme tem", afirma a produtora.

    Oriunda do cinema independente paulista, Muylaert teve no longa "Durval Discos" (2003) seu maior êxito de público: 70 mil espectadores. O último, "Chamada a Cobrar", (2013) foi visto por cerca de 2.000 pessoas no cinema. "Sempre entendi o 'Que Horas' como um filme clássico, popular", diz a diretora.

    "Mas para o mercado brasileiro, só existem dois tipos de longa: os de arte e as comédias da Globo. Como o meu não se encaixava nesse último critério, foi lançado como se fosse filme de arte."

    BOCA A BOCA

    Distribuidora do longa, Barbara Sturm diz que buscou emplacar o filme em salas ligadas ao circuito de filmes autorais e algumas de "público massivo". A primeira semana ficou aquém do esperado, mas gerou comentários que viram seu ápice no dia do anúncio para o Oscar.

    "Passamos para o pessoal do Facebook a necessidade de as pessoas pedirem pelo filme em suas cidades". diz Sturm. "Aí ocorreu o fenômeno: os exibidores vieram nos procurar, e não o inverso."

    O fuzuê na internet mostra opiniões divididas, contudo.

    "[A diretora] somou comédia com drama, popular com profundo, causa social com leveza, agradou a USP e os playboys", diz a roteirista Tati Bernardi, colunista da Folha. "É o que busco como roteirista: o lugar do popular bom."

    Também colunista do jornal, Mariliz Pereira Jorge observa que "uma boa ideia não significa um bom filme". "A temática dele é necessária, mas o filme é um festival de estereótipos: a patroa é insensível, o patrão é alienado, o filho é um bundão. A interpretação da Regina Casé é a única coisa boa: ela é uma personagem real."

    A RECEITA DA VAL - Fatores que ajudam a explicar fenômeno 'Que Horas Ela Volta?'

    A Receita da Val

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