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    crítica

    Documentário sobre Keith Richards sofre com clichês e elogios

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA FOLHA

    23/09/2015 02h25

    A Netflix estreou "Keith Richards: Under the Influence", um documentário sobre o mitológico guitarrista dos Rolling Stones. Infelizmente, o filme é o exato oposto de Richards: bem comportado, bonzinho e sem polêmicas.

    Dirigido por Morgan Neville, vencedor do Oscar de melhor documentário pelo piegas "A Um Passo do Estrelato" (2013), o longa é uma elogia a Richards e à mitologia que o cerca, sem preocupação em explorar ideias, idiossincrasias e pensamentos do guitarrista. O filme acaba e não sabemos quem é, de verdade, o sujeito por trás do mito.

    O que não quer dizer que fãs dos Stones não vão se divertir. Há cenas de arquivo memoráveis, e algumas sequências interessantes que retratam bastidores da vida dos Stones, como o técnico de guitarra de Richards mostrando os instrumentos mais raros da coleção do artista.

    É bonito –embora batido– ver Richards falando da infância, numa Inglaterra cinza e triste, ainda em escombros da Segunda Guerra, e de ser "salvo" pelo blues de Muddy Waters, a country music de Hank Williams e o rock'n'roll de Chuck Berry e Elvis Presley.

    J. Rose/Netflix
    O guitarrista dos Stones em cena do documentário 'Keith Richards: Under the Influence'
    O guitarrista dos Stones em cena do documentário 'Keith Richards: Under the Influence'

    "Quando ouvi Elvis cantando 'Baby Let's Play House', o mundo subitamente passou de preto e branco a Tecnicolor", diz Richards.

    Em outra passagem marcante, Richards vai a Chicago, à sede da gravadora Chess (onde se espantou, nos anos 60, ao ver Muddy Waters pintando as paredes do prédio) e encontra o bluesman Buddy Guy, que fala da importância dos Stones para a popularização do blues no mundo.

    Guy conta que chorou ao saber que os Stones exigiram, num programa de TV nos anos 60, a presença do bluesman Howlin' Wolf. "Foi a primeira vez que vi Wolf na TV. E foi tudo culpa desses caras", diz, apontando para Richards.

    O documentário é, basicamente, uma longa propaganda do novo disco solo de Richards, "Crosseyed Heart", e ele aparece tocando várias músicas do LP. Também fala de amigos que se foram (Gram Parsons, Muddy Waters) e dos gêneros musicais que o marcaram, como country e reggae.

    Que Neville tenha feito um filme inteiro sobre Keith Richards –astro que personifica a rebeldia associada ao rock –sem mencionar sexo, drogas e as polêmicas que ele protagonizou nos últimos 52 anos, é um assombro.Em vez disso, temos um festival de frases feitas que fãs já ouviram de Richards, como "Você só vira adulto quando está morto e enterrado". Nada menos rock'n'roll que isso.

    KEITH RICHARDS - UNDER THE INFLUENCE
    DIREÇÃO Morgan Neville
    PRODUÇÃO EUA, 2015
    ONDE disponível na Netflix

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