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    Tradicional escola de artes cênicas, Célia Helena pode fechar seu teatro

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    24/09/2015 02h15 Erramos: o texto foi alterado

    Uma das mais tradicionais escolas de artes cênicas de São Paulo, o Centro de Artes e Educação Célia Helena pode ter que deixar em breve seu teatro —um prédio do início do século 20 na Liberdade—, que ocupa há quase 40 anos.

    Os proprietários do imóvel informaram à instituição no fim da semana passada que precisarão vender o local, explica Lígia Cortez, diretora do Célia Helena.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Sao Paulo, SP,Brasil 23.09.2015 interior do Teatro Celia Helena, uma das escolas de teatro mais tradicionais do pais, ameacado de perder a sua sede. O proprietario do imovel, apos 40 anos, quer vender o local para transformar em um estacionamento. Foto: Diego Padgurschi /Folhapress Cod. 1394
    Sala de espetáculos do Centro de Artes e Educação Célia Helena, no bairro da Liberdade

    "É tudo muito novo, não tivemos tempo de entender direito. Vejo isso [a especulação imobiliária] como um processo natural. Os donos sempre nos apoiaram. Mas acho que poderemos renegociar."

    A Folha não conseguiu contato com os proprietários.

    Inaugurada em 1977 pela atriz e diretora Célia Helena (1936-97) com um show de Maria Bethânia, a escola virou referência na formação em artes cênicas na cidade.

    Hoje, além dos cursos, serve de espaço de apresentação e tem o projeto de abrir, no próximo ano, um mestrado na área. Lecionam ali nomes como os diretores Samir Yazbek e Nelson Baskerville.

    "É um espaço com uma história bem particular, de uma importância cultural muito grande", avalia Lígia, que é filha de Célia e do também ator Raul Cortez (1932-2006).

    O terreno na Liberdade serve de teatro e espaço para aulas práticas -a maior parte das aulas teóricas é feita na unidade do Itaim Bibi, onde também fica a administração.

    A escola ainda conta com um espaço no bairro do Pacaembu, voltado a cursos para crianças e jovens.

    "A escola mantém esse teatro [na Liberdade], que é um equipamento da instituição, mas também um espaço público", afirma Lígia. "Mas não existe a menor possibilidade de a escola fechar as portas", afirma.

    ESPECULAÇÃO

    O Célia Helena não é o primeiro caso de teatro que sofre com a especulação imobiliária. No ano passado, o Núcleo Bartolomeu foi despejado de sua sede, no bairro da Pompeia, que deve dar lugar a um condomínio residencial.

    Já o Instituto Brincante, do multiartista Antonio Nóbrega, teve seu espaço, na Vila Madalena, vendido pelo proprietário do imóvel, mas conseguiu na Justiça permanecer no local até o fim deste ano.

    Fabio Braga - 9.jul.2014/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 09-07-2014: XXXXXXX. Teatro Brincante, ha mais de 20 anos na Vila Madalena, na Rua Purpurina, esta ameacado de ser fechado. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, ILUSTRADA).
    Fachada do Instituto Brincante, na Vila Madalena

    Após os casos, a Cooperativa Paulista de Teatro listou, no fim do ano passado, 22 teatros independentes da cidade que, de algum modo, seriam ameaçados pela especulação imobiliária. Os locais foram posteriormente reconhecidos pelo governo paulistano como patrimônio cultural e imaterial de São Paulo.

    Também foi sancionada, em abril, uma lei que isenta teatros da capital paulista de pagarem IPTU. O texto está em fase de regulamentação e deve entrar em vigor em 2016.

    Nesse sentido, ainda foi criado o Motin - Movimento dos Teatros Independentes.

    O grupo de artistas, iniciado em 2013, foi lançado oficialmente na terça (22). Para o coletivo, que visa à manutenção dessas casas, há muitas leis de incentivo ao teatro em São Paulo (como o Fomento e o Prêmio Zé Renato), mas são voltadas apenas à pesquisa e à produção de espetáculos, não levando em conta os espaços físicos dos grupos.

    Assim, muitos deles têm recorrido ao financiamento coletivo pela internet. O Club Noir, na rua Augusta, conseguiu arrecadar no primeiro semestre pouco mais de R$ 50 mil para sanar dívidas de manutenção de sua sede, em uma campanha virtual.

    Já o Brincante angariou cerca de R$ 100 mil para a construção de uma nova sede.

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