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    CRÍTICA

    Tenso e incômodo, 'Orestes' discute a violência no país

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    24/09/2015 02h45

    As marcas da violência da ditadura militar estão presentes nas histórias de vida das famílias de mortos e torturados pelo regime. Seus desdobramentos se encontram no cotidiano das polícias, nos assassinatos de pobres em supostos confrontos e na barbárie das chacinas.

    Basta lembrar o que ocorreu recentemente em Osasco. O conjunto revela a face vingativa da sociedade e a defesa ainda hoje do "olho por olho, dente por dente".

    É nessa discussão que trafega "Orestes", original e provocativo filme de Rodrigo Siqueira. Mesclando documentário, psicodrama e encenação, o diretor mexe com a plateia: cria tensão, incômodo.

    Vítimas da ditadura e da atual violência policial contam histórias e interagem em sessões de psicodrama. Debatem com uma feroz defensora da pena de morte e do assassinato de "bandidos".

    Ali, de forma crua, os argumentos são expostos. Há gritaria e choro; dedos em riste, abraços. Diálogos truncados expressam os dilemas da sociedade brasileira, dividida e com feridas abertas.

    Gabo Morales/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 08-08-2013: O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes debate em tribunal do juri simulado durante as gravacoes do longa metragem Orestes, na Faculdade de Direito da Universidade de Sao Paulo (USP), em 8 de Agosto de 2013. (Foto: Gabo Morales/Folhapress, FOLHATEEN) *** EXCLUSIVO FOLHA ***
    O promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes debate em tribunal do júri simulado durante as gravações do longa "Orestes"

    Perpassando a narrativa, o caso de Ñasaindy Barret Araújo serve de fio condutor para muitas das discussões. Ela é filha da guerrilheira comunista Soledad Barrett Viedma, assassinada em 1973 numa emboscada tramada por José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, seu ex-companheiro.

    Ñasaindy, cujo pai também foi vítima da ditadura, ainda busca explicações para a traição. Servindo como espelho do drama, o filme traz a simulação do julgamento de Orestes, um imaginado sujeito que viu, quando garoto, a mãe ser morta pelo pai –um traidor a serviço da ditadura.

    No filme, o debate sobre a situação fictícia é palco para a amarração do tema. Sem a pretensão de expor saídas simples, "Orestes" é um denso espaço para a discussão sobre a violência no país.

    ORESTES
    DIREÇÃO Rodrigo Siqueira
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 12 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (24)

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