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Se rock é de Deus ou não, só Ele sabe. Por via das dúvidas, um batalhão de Testemunhas de Jeová foi ao Rock in Rio para oferecer "uma palavra amiga", dizem.

São cerca de 30 bancas espalhadas ao longo da avenida Embaixador Abelardo Bueno, que dá acesso ao festival. Os missionários as abastecem com material de evangelização, armazenado com o "irmão Flávio".

Dezenas de revistas "Despertai!" estão empilhadas sob o tanque de uma casinha simples, vizinha a um condomínio de luxo na região. Um filhote de gato dorme sobre o monte.

"Como a música afeta você?", diz o título da capa, com uma jovem de feições orientais e blusa rosa ouvindo algo no fone.

Dentro, a indagação: "Pergunte-se: 'Como as músicas que escuto afetam meus pensamentos? Depois de ouvi-la, sinto-me relaxado e revigorado ou tenso e aborrecido? Será que incitam pensamentos indecentes?'".

"Aquele Nicky Mercury, por exemplo, não era uma boa influência", diz um evangelizador, com blusa social amarela abotoada até o pescoço e calça social bege, sob um calor de 37ºC.

Refere-se a Freddie Mercury, vocalista do Queen morto em 1991. Em seu show no sábado (19), Baby do Brasil deu "uma bela amostra de fé", diz, lembrando proselitismos da autointitulada "popstora evangélica" no palco –a certa altura, ela garantiu que "não vai ter bunda mole no céu".

Orientadas a não falar com a imprensa, as Testemunhas de Jeová –um ramo cristão– andam em duas ou três pessoas e batem pontos em grandes eventos, como a Copa do Mundo e outros festivais, como o Lollapalooza.

Costumam esperar que um curioso fale com elas, não o contrário. Nesta quinta (24), num espaço de 15 minutos, três jovens procuraram um trio de missionários próximo a uma ambulante que vendia cerveja –duas delas para pedir informação.

A terceira resolveu pregar uma peça no "irmão Rogério". O religioso permanece plácido enquanto um garoto com blusa da roqueira System of a Down (algo como "sistema de uma decadência) se posiciona atrás dele e faz chifrinhos com a mão em sua cabeça. A amiga tira a foto da cena, e eles saem correndo, rumo às portas da Cidade do Rock.

Rogério, que prefere não dar seu sobrenome, apenas sorri. "Não é a primeira vez." Ele diz que o rock tende, sim, a ser "demoníaco", por incentivar "perversões sexuais e violência". Pior do que ele, "só o espiritismo", afirma.

"Há muitos demônios que fingem ser entidades do bem. A Bíblia já dizia isso."

A Bíblia também receita que "a fornicação e a impureza de toda sorte, ou a ganância, não sejam nem mencionadas entre vós" (Efésios 5:3), destaca a publicação que os missionários oferecem ao público.

Algumas letras de rap "são chocantes", às vezes agressivas e cheias de misoginia", e heavy metal em geral inclui "violência e ocultismo", continua o texto.

A revista não fala só sobre música. Há, por exemplo, duas páginas dedicadas a um código de conduta para redes sociais. "O apóstolo Pedro escreveu: 'que os outros sempre vejam você se comportando bem'."

Também inclui uma matéria sobre "a gordura dos mamíferos marinhos", para argumentar que ela, ao ajudar golfinhos a nadar rápido, é fruto da vontade de Deus, não da Teoria da Evolução.

Um grupo evangélico, como as Testemunhas, também se empenha para que roqueiros também possam evoluir. Se Deus quiser.

A Juventude Batista Carioca leva à frente do festival o projeto "Eu Sou", realizado desde a edição de 2001. Eles estiveram no Rock in Rio para o primeiro final de semana e voltarão para o próximo, dias de Rihanna (26) e Katy Perry (27).

"Nossa mensagem é centralizada na fé de Jesus Cristo", diz Ronan, que se apresenta como executivo do movimento. "Com muito respeito e alegria, conversamos com a galera que passa, trocamos uma ideia sobre um mundo verdadeiramente melhor."

Veja a programação e a estrutura do festival na página especial dedicada à festa

	Editoria de Arte/Folhapress
	Especial Rock in Rio