• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 20:03:28 -03

    'Tô rolando sobre pedras', diz cadeirante sobre BRT para o Rock in Rio

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    24/09/2015 22h05

    A estudante de direito Amanda Moreira, 33, diz em tom bem-humorado que seu trajeto do ônibus do BRT (único transporte que chega na Cidade do Rock) até as portas da Cidade do Rock foi "rolling stones".

    Em português, o nome da banda de Mick Jagger e Keith Richards significa algo como "pedras a rolar". Mas Amanda, na cadeira de rodas desde que sofreu um acidente de cavalo há quatro anos, prefere traduzir assim: "Tô rolando sobre pedras".

    "'No satisfaction'", ela continua, rindo, cantando Rolling Stones para descrever a travessia de pouco mais de 1 Km que encarou, nesta quinta (24), entre o ponto final do ônibus e os portões do evento.

    As reclamações de cadeirantes para esta edição se concentram em dois pontos: o caminho do BRT até o festival, com trechos cheios de pedregulhos e areia, e a área reservada aos PNE (portadores de necessidades especiais) para assistir aos shows.

    O aposentado Felipe Diniz, 26, empatiza com Amanda. Diz que sobra mesmo para o analista de sistemas Fabrício Diniz, que fez 30 anos nesta quinta (24) e ganhou "de presente de aniversário" a missão de empurrar o primo cadeirante pelo Rock in Rio.

    "Quem tem que reclamar é ele, que me carrega", afirma Felipe, que tem polimiosite, doença crônica que afeta a musculatura. Eles vieram de São Gonçalo, na Baixada Fluminense, até a zona oeste carioca para ver o show do System of a Down.

    Tanto Amanda quanto Felipe compararam o trajeto do ônibus à Cidade do Rock a uma "corrida com obstáculos", sobretudo de pedra e areia.

    Os dois também concordam que o espaço para deficientes físicos assistirem às apresentações não é dos melhores.

    Não há qualquer sombra sobre a área do palco Sunset, onde a programação começa à tarde, quando o sol está inclemente. "A gente não pode simplesmente peregrinar até achar um canto bom. Sacanagem", diz Amanda.

    Já a zona PNE para o palco Mundo está "um pouco deslocada", o que prejudica a vista para os artistas, segundo Felipe. O perímetro fica num canto periférico à esquerda do palco. Como os shows começam às 19h, o sol não é problema.

    Segundo a organização do Rock in Rio, "o local escolhido para os cadeirantes é aquele que possibilita melhor acessibilidade aos PNEs".

    Já a Secretaria de Transportes afirmou, em nota, que montou uma operação "que está permitindo o acesso de cadeirantes" ao evento, via BRT, "respeitando-se a gratuidade e a preferência de embarque". Não falou sobre o trecho que liga o ponto final do ônibus ao festival, mas ressalvou que não "realiza obras".

    OUTRO LADO

    O consórcio operacional do BRT diz estar à disposição, na estação Rock in Rio, um serviço de shuttle para "pessoas com mobilidade reduzida", oferecido pela organização do festival.

    A Folha conversou com quatro cadeirantes, que desconheciam esse serviço.

    "Lamentamos o transtorno enfrentado pelos clientes Amanda Moreira, Felipe Dniz e Fabrício Diniz e esclarecemos que a área de brita está fora da estação Rock in Rio, em logradouro público sobre o qual não temos ingerência", diz o consórcio, em nota.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024